Adaptação do «Auto da Barca do Inferno», de Gil Vicente,
feita por Gonçalo, Carolina e Filipe, alunos de 42 anos (14 cada
um) da Escola EB23 Dra. Maria Alice Gouveia, de Coimbra, numa aula de
Português, que teve direito a uma publicação na biblioteca digital da escola e
que merece ser partilhada:
Vem Miguel Relvas conduzindo aos zigue zagues o seu
Mercedes banhado a ouro e sai do carro com o seu diploma na mão. Chegando ao
batel infernal, diz:
RELVAS – Hou da barca!
DIABO – Ó poderoso Doutor Relvas, que forma é essa de
conduzir?
RELVAS – Tirei a carta de scooter e deram-me
equivalência. Esta barca onde vai hora?
DIABO – Pera um sítio onde não hai contribuintes para
roubar!
RELVAS – Pois olha, não sei do que falais… Quantas aulas
eu ouvi, nom me hão elas de prestar?
DIABO – Ha Ha Ha. Oh estudioso sandeu, achas-te digno de
um diploma comprado nos chineses ao fim de três aulas?
RELVAS – Um senhor de tal marca não há de merecer este
diploma?
DIABO – Senhores doutores como tu, tenho eu cá muitos.
Miguel Relvas, indignado com a conversa, dirige-se ao
batel divinal.
RELVAS – Oh meu santo salvador, que barca tão bela,
porque nom eu dir eu nela?
ANJO – Esta barca pertence ao Céu, nom a irás privatizar!
RELVAS – Tanto eu estudei, que nesta barca eu entrarei.
ANJO – Tu aqui não entrarás, contribuintes cortaste,
dinheiro roubaste e um curso mal tiraste.
Relvas, sem alternativa, volta à barca do Diabo.
RELVAS – Pois vejo que não tenho alternativa. Nesta barca
eu irei…Tanto roubei, tanto cortei, não cuidei que para o inferno fosse.
DIABO – Bem vindo ao teu lar, muitos da tua laia já cá
tenho e muitos mais virão. Entra, entra, ó poderoso senhor doutor magistrado
Relvas.
Pegarás num remo e remarás com a força e vontade com que
roubaste aos que afincadamente trabalharam.
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