terça-feira, 16 de abril de 2013

A PERGUNTA QUE NUNCA FIZEMOS AO BANCO



A história é de um agricultor que vai ao banco da aldeia pedir um empréstimo. O gerente do banco, depois de olhar para o agricultor de cima a baixo, pergunta-lhe:

‘Para quê que você precisa do dinheiro?'.

 Ao que o agricultor responde: 
‘Para plantar uma horta e depois ir ao mercado vender umas ervilhas, uns rabanetes, uns repolhos....' 
O gerente do banco impaciente, sem mais rodeios, vira-se para o agricultor e vai directo ao assunto: 
‘E você tem algum colateral para dar ao banco?'
Ao ver o ar desnorteado do agricultor, o gerente insiste: 
‘Tem alguma coisa de valor para dar de garantia ao banco?'
Depois de muitas explicações, o gerente do banco lá consegue convencer o agricultor a deixar lá a sua vaca cujo valor serviria de colateral para cobrir o empréstimo.

Passado uns meses, o agricultor regressa ao banco com um rolo de notas para pagar o empréstimo, com juros, e reaver a sua vaca. O resto do dinheiro mete-o no bolso. O gerente do banco, intrigado, pergunta: 
‘E o que vai você fazer com o resto do dinheiro?'. 
Ao que o agricultor responde:
‘Vou guardar debaixo do colchão'.
Ao que o gerente do banco sugere: ‘E por que não o deposita aqui e nós tomamos conta do seu dinheiro?' 
O agricultor, com um ar desconfiado, vira-se para o gerente do banco e, depois de muito matutar, pergunta: ‘E você tem algum colateral para me dar?'
Moral da história: 
quando vamos à banca pedir dinheiro, o banco passa a ser nosso credor e, como tal, exige garantias para se precaver caso entremos em incumprimento. Mas quando vamos ao banco depositar o nosso dinheiro, passamos nós a ser credores do banco, mas nem por isso exigimos um colateral. 
Por uma razão simples: até agora, os depósitos eram o activo mais seguro que se podia ter e, como tal, a probabilidade de o banco não nos devolver o dinheiro era mínima.
Isto é o moral da história. 
O que há de imoral nesta história é que a Europa encontrou um novo modelo para resgatar os bancos e que passa por impor perdas não só aos accionistas e obrigacionistas, mas também aos depositantes. 
Na semana passada, quando se estava a negociar o empréstimo para o Chipre, o líder do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, jurou a pés juntos que a solução de taxar os depósitos na ilha não iria ser replicada em mais nenhum País da zona euro. 
Na semana passada jurou e ontem abjurou. 
Jeroen Dijsselbloem veio dizer que afinal, de agora em diante, caso algum banco na Europa venha a ter problemas, os accionistas, os obrigacionistas e, pasme-se, os depositantes com poupanças de mais de 100 mil euros vão ser chamados a fazer um ‘bail-in' ao banco para que os contribuintes não tenham de fazer um ‘bail-out'.
E o que vai acontecer depois desta decisão bizarra, injusta e altamente alarmista? 
A Moody's fala em risco de saída de depósitos da Europa, fugas de capital e custos mais elevados para as empresas e os países  provavelmente não se vai sentir nada. 
O grande capital move-se sorrateiramente e de forma silenciosa para outras paragens. Só daqui a uns meses é que vamos perceber os estragos que uma decisão deste género terá nos balanços da banca. 
E nessa altura, se for preciso salvar algum banco que faliu por causa da fuga de depósitos, os eurocratas bem podem procurar os tais depósitos de 100 mil euros para taxar que não os vão encontrar.




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