A história é de um
agricultor que vai ao banco da aldeia pedir um empréstimo. O gerente do banco,
depois de olhar para o agricultor de cima a baixo, pergunta-lhe:
‘Para quê que você precisa do dinheiro?'.
Ao que o agricultor responde:
‘Para
plantar uma horta e depois ir ao mercado vender umas ervilhas, uns rabanetes,
uns repolhos....'
O gerente do banco impaciente, sem mais rodeios, vira-se para
o agricultor e vai directo ao assunto:
‘E você tem algum colateral para dar ao
banco?'
Ao ver o ar desnorteado do agricultor, o gerente insiste:
‘Tem alguma
coisa de valor para dar de garantia ao banco?'
Depois de muitas explicações, o
gerente do banco lá consegue convencer o agricultor a deixar lá a sua vaca cujo
valor serviria de colateral para cobrir o empréstimo.
Passado uns meses, o agricultor regressa
ao banco com um rolo de notas para pagar o empréstimo, com juros, e reaver a
sua vaca. O resto do dinheiro mete-o no bolso. O gerente do banco, intrigado,
pergunta:
‘E o que vai você fazer com o resto do dinheiro?'.
Ao que o
agricultor responde:
‘Vou guardar debaixo do colchão'.
Ao que o gerente do
banco sugere: ‘E por que não o deposita aqui e nós tomamos conta do seu
dinheiro?'
O agricultor, com um
ar desconfiado, vira-se para o gerente do banco e, depois de muito matutar,
pergunta: ‘E você tem algum colateral para me dar?'
Moral da história:
quando vamos à banca
pedir dinheiro, o banco passa a ser nosso credor e, como tal, exige garantias
para se precaver caso entremos em incumprimento. Mas quando vamos ao banco
depositar o nosso dinheiro, passamos nós a ser credores do banco, mas nem por
isso exigimos um colateral.
Por uma razão simples: até agora, os depósitos eram
o activo mais seguro que se podia ter e, como tal, a probabilidade de o banco
não nos devolver o dinheiro era mínima.
Isto é o moral da história.
O que há de
imoral nesta história é que a Europa encontrou um novo modelo para resgatar os
bancos e que passa por impor perdas não só aos accionistas e obrigacionistas,
mas também aos depositantes.
Na semana passada, quando se estava a negociar o
empréstimo para o Chipre, o líder do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, jurou a
pés juntos que a solução de taxar os depósitos na ilha não iria ser replicada
em mais nenhum País da zona euro.
Na semana passada jurou e ontem abjurou.
Jeroen Dijsselbloem veio dizer que afinal, de agora em diante, caso algum banco
na Europa venha a ter problemas, os accionistas, os obrigacionistas e,
pasme-se, os depositantes com poupanças de mais de 100 mil euros vão ser
chamados a fazer um ‘bail-in' ao banco para que os contribuintes não tenham de
fazer um ‘bail-out'.
E o que vai acontecer depois desta
decisão bizarra, injusta e altamente alarmista?
A Moody's fala em risco de saída
de depósitos da Europa, fugas de capital e custos mais elevados para as
empresas e os países provavelmente não se
vai sentir nada.
O grande capital move-se sorrateiramente e de forma silenciosa
para outras paragens. Só daqui a uns meses é que vamos perceber os estragos que
uma decisão deste género terá nos balanços da banca.
E nessa altura, se for
preciso salvar algum banco que faliu por causa da fuga de depósitos, os
eurocratas bem podem procurar os tais depósitos de 100 mil euros para taxar que
não os vão encontrar.
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