Ontem encontrei o Zé do
Casal do Cimeiro …
Há que tempos o não
via !!!
Era (e é ainda concerteza) um excelente companheiro da farra. Toca
cavaquinho e tem bom vinho na sua adega.
Quase todas as
sextas-feiras, na primeira metade dos anos 80, era “obrigatório” ir fazer uma
farra para sua casa acompanhado de mais alguns compinchas da Granja e dos
Casais Velhos … hoje tudo gente respeitável mas, na época, … uns verdadeiros
bardinas.
As vicissitudes da vida
fizeram com que tomássemos e percorrêssemos caminhos afastados e, só
ocasionalmente, íamos sabendo um do outro.
Foi um momento muito
bom e pudemos recordar algumas das patifarias de que ambos fomos protagonistas.
“Então João Rui, já
estás reformado?” – perguntou ele.
- Não Zé, ainda não…
sou, felizmente, muito novo para isso, só vou fazer 54 este ano, para Julho se
Deus quiser.
O banco onde trabalhei
tinha decidido dispensar cerca de 600 colaboradores e, entre sindicalistas, coxos,
cegos e outros aleijados, mal-comportados, etc … não conseguiu perfazer esse
número, pelo que estendeu o “convite” a quem se quisesse voluntariar, mantendo
as condições que tinha proposto inicialmente aos “outros”.
- Olha, eu também já me
vim embora da CP há dois anos, e também rescindi.
- Ai sim?... não sabia
Zé. Pois eu decidi que era chegada a hora e aproveitei esta janela de
oportunidade que talvez dificilmente se repita … esta merda está má pá !!!!
- Pois está Rui. Como
sabes, eu era o encarregado de manutenção de pontes e túneis e, até parece que
a CP contratou novos engenheiros só para chatear a malta. Putos novos, com que
diariamente tinha que lidar e com grande esforço digo-te pois, para além de lhes faltar
“calo”, não tinham qualquer consideração por quem já lá trabalhava há 30 anos …
e a nossa experiência, sem qualquer título académico, mas não deixava de ser
experiência, de nada valia.
Cheguei a ter problemas
com um engenheiro a quem tive que dizer que não assinava a documentação de
manutenção dum túnel por considerar que poderia ruir a qualquer momento e não
queria ser responsabilizado !!!
- Pois Zé, acho que
compreendo o que sentes …
- E mais Rui, a forma
como as orientações eram definidas … nem sei se a administração da CP sabia o
que se passava pois, se soubesse, teria que tomar posição e medidas sobre o
assunto. Vinha um engenheiro dum departamento e mandava fazer uma obra, algum
tempo depois e quando o estaleiro estava a ser montado, a encomenda de
materiais, etc. estavam organizados, vinha um outro departamento dizer que nada
daquilo podia ou devia ser feito … Já viste?.. depois de falar com o pessoal
para organizar turnos, folgas, … uma merda pá !!!
Olha, trabalhava-se
para o show-off … o que eles gostavam era de apresentar mapas e mapinhas,
gráficos com merdas que todos eles gostavam de ver mas o que era mesmo preciso
era que os comboios passassem pelas pontes e túneis em segurança !!!
- Pois Zé ... sabes que quando as empresas têm dificuldades
e quando o momento aconselharia serenidade e planeamento, é quando parece
fazerem pior. O que se planeia é para amanhã se não puder ser para hoje ainda …
e tudo é feito debaixo dum nervosismo e stress que não ajudam à lucidez
fundamental para decretar medidas.
E entra-se num ciclo
vicioso.
Determina-se uma medida
que, para a semana, se está a alterar com os prejuízos evidentes para todas as
entidades envolvidas sendo a “imagem”, a mais afectada… dá a ideia de que as
empresas não têm um rumo e que funcionam de acordo com os estímulos do momento …
Quando trabalhava, o
pior que me podia acontecer era não perceber para onde se queria ir. Alguém que
indicasse o caminho, mesmo que difícil e consumidor de energias mas era “o
caminho” … através deste atingia-se o fim desejado.
Hoje, qual quimera, Santo
Graal ou fim de Arco-Íris, parece que ninguém sabe dar uma ideia sequer onde é
esse lugar … e as empresas perdem-se, perdem os seus colaboradores, mesmo até os
seus mais fiéis clientes se afastam, perdem o seu valor, e os seus accionistas
e investidores perdem também … o dinheiro e a paciência.
Tempos modernos Zé…
tempos modernos.
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