quinta-feira, 4 de abril de 2013

ENCONTREI O ZÉ



Ontem encontrei o Zé do Casal do Cimeiro …

Há que tempos o não via !!! 
Era (e é ainda concerteza) um excelente companheiro da farra. Toca cavaquinho e tem bom vinho na sua adega.
Quase todas as sextas-feiras, na primeira metade dos anos 80, era “obrigatório” ir fazer uma farra para sua casa acompanhado de mais alguns compinchas da Granja e dos Casais Velhos … hoje tudo gente respeitável mas, na época, … uns verdadeiros bardinas.

As vicissitudes da vida fizeram com que tomássemos e percorrêssemos caminhos afastados e, só ocasionalmente, íamos sabendo um do outro.
Foi um momento muito bom e pudemos recordar algumas das patifarias de que ambos fomos protagonistas.

“Então João Rui, já estás reformado?” – perguntou ele.

- Não Zé, ainda não… sou, felizmente, muito novo para isso, só vou fazer 54 este ano, para Julho se Deus quiser.
O banco onde trabalhei tinha decidido dispensar cerca de 600 colaboradores e, entre sindicalistas, coxos, cegos e outros aleijados, mal-comportados, etc … não conseguiu perfazer esse número, pelo que estendeu o “convite” a quem se quisesse voluntariar, mantendo as condições que tinha proposto inicialmente aos “outros”.

- Olha, eu também já me vim embora da CP há dois anos, e também rescindi.

- Ai sim?... não sabia Zé. Pois eu decidi que era chegada a hora e aproveitei esta janela de oportunidade que talvez dificilmente se repita … esta merda está má pá !!!!

- Pois está Rui. Como sabes, eu era o encarregado de manutenção de pontes e túneis e, até parece que a CP contratou novos engenheiros só para chatear a malta. Putos novos, com que diariamente tinha que lidar e com grande esforço digo-te pois, para além de lhes faltar “calo”, não tinham qualquer consideração por quem já lá trabalhava há 30 anos … e a nossa experiência, sem qualquer título académico, mas não deixava de ser experiência, de nada valia.
Cheguei a ter problemas com um engenheiro a quem tive que dizer que não assinava a documentação de manutenção dum túnel por considerar que poderia ruir a qualquer momento e não queria ser responsabilizado !!!

- Pois Zé, acho que compreendo o que sentes …

- E mais Rui, a forma como as orientações eram definidas … nem sei se a administração da CP sabia o que se passava pois, se soubesse, teria que tomar posição e medidas sobre o assunto. Vinha um engenheiro dum departamento e mandava fazer uma obra, algum tempo depois e quando o estaleiro estava a ser montado, a encomenda de materiais, etc. estavam organizados, vinha um outro departamento dizer que nada daquilo podia ou devia ser feito … Já viste?.. depois de falar com o pessoal para organizar turnos, folgas, … uma merda pá !!!
Olha, trabalhava-se para o show-off … o que eles gostavam era de apresentar mapas e mapinhas, gráficos com merdas que todos eles gostavam de ver mas o que era mesmo preciso era que os comboios passassem pelas pontes e túneis em segurança !!!

- Pois Zé ...  sabes que quando as empresas têm dificuldades e quando o momento aconselharia serenidade e planeamento, é quando parece fazerem pior. O que se planeia é para amanhã se não puder ser para hoje ainda … e tudo é feito debaixo dum nervosismo e stress que não ajudam à lucidez fundamental para decretar medidas.
E entra-se num ciclo vicioso.
Determina-se uma medida que, para a semana, se está a alterar com os prejuízos evidentes para todas as entidades envolvidas sendo a “imagem”, a mais afectada… dá a ideia de que as empresas não têm um rumo e que funcionam de acordo com os estímulos do momento …
Quando trabalhava, o pior que me podia acontecer era não perceber para onde se queria ir. Alguém que indicasse o caminho, mesmo que difícil e consumidor de energias mas era “o caminho” … através deste atingia-se o fim desejado.
Hoje, qual quimera, Santo Graal ou fim de Arco-Íris, parece que ninguém sabe dar uma ideia sequer onde é esse lugar … e as empresas perdem-se, perdem os seus colaboradores, mesmo até os seus mais fiéis clientes se afastam, perdem o seu valor, e os seus accionistas e investidores perdem também … o dinheiro e a paciência.

Tempos modernos Zé… tempos modernos.




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