quinta-feira, 20 de março de 2014

A MEU PAI ...



Meu pai com os netos e bisnetos


Ontem foi Dia do Pai mas não me apeteceu escrever ... as redes sociais estavam repletas de banalidades acerca dos pais e não quis contribuir com mais uma ... e não estava com veia prosaica, reconheço.
No entanto, hoje apeteceu-me escrever umas linhas de homenagem a meu pai, Homem que muito admiro e de quem, felizmente, recebi valores e princípios maiores que fortunas.

Agora percebo ...

Sim, agora compreendo o que antes me passou ao lado ...

Após cerca de 5 anos a lutar com um persistente cancro que lhe apareceu primeiro nas "miudezas das senhoras" (útero e ovários), faleceu, em 20 de Dezembro de 1994, a minha mãe .

Detectado o problema e depois de operada e de sessões de quimioterapia que a deixavam incapacitada, tal a violência dos tratamentos de então, conheceu algumas melhoras e sobreviveu fazendo a "vida normal" que alguns doentes de cancro conseguem fazer.

No entanto, as metastizações regressaram em força e nem o regresso à quimioterapia conseguiram a sua regressão ... e assim acabou com as suas entranhas completamente minadas pelo "bicho".

Meu irmão morava em Lisboa e eu, apesar de residir na mesma aldeia, tinha a minha vida, o que quer dizer que morava noutra casa, ia para o trabalho de manhã, regressava à noite, ajudava o meu pai nalguns trabalhos agrícolas ao fim de semana... ao domingo, almoçava-se em casa de meus pais.

Sabia que a minha mãe estava doente e observava que as suas forças não eram as de antigamente ... mas o seu sofrimento era em sua casa, partilhado com o meu pai... eu, como disse, apesar de consciente da sua doença, estava a ela alheado.

Se as noites eram mal dormidas ou nem sequer adormecidas, eu não sabia porque, descansado em minha casa, dormia descansado e ausente da realidade que, realmente se passava em casa de meus pais.

Quando o meu pai me contava que, nesse dia, tinha ido ao "tratamento" com a minha mãe, interpretava isso como muito simplesmente se tivessem ido a mais uma consulta.

Quando sabia, por um ou por outro que a "ressaca" do tratamento tinha sido violenta, na minha cabeça formava-se apenas a imagem duma indisposição.

Desvalorizava ... vivia a minha vida, para a minha família de então, na minha casa cujas paredes blindavam o que se passava na de meus pais.

Minha mãe faleceu sem que que, realmente eu tivesse percebido o significado dela ter tido um cancro e da luta que com ele travou até ser por ele consumida. 

Hoje percebo os estados de alma do meu pai à época ... percebo as dificuldades que sentia em lidar, só, com a doença de minha mãe com o problema acrescido de estar a trabalhar e ter que se dividir entre a necessidade de continuar a garantir o sustento económico da "casa" e as cada vez maiores necessidades de assistência a minha mãe.

Julgo perceber, hoje, tudo isso e, infelizmente, da pior maneira, pela própria experiência.

Ficou um enorme exemplo de carinho e ternura, de companhia sempre presente e de tudo fazer para proporcionar o melhor dos confortos a minha mãe.

Estou certo que vive sem remorsos alguns e sentido de dever cumprido.

Felizmente, fui capaz de o perceber o que torna natural colocá-lo, hoje, em prática.

Agora percebo  pai ... obrigado pelo teu exemplo.



3 comentários:

  1. Os pais dão, sobretudo, exemplos. Por melhor que seja o discurso e a semântica, é através do exemplo que se transmitem os valores e princípios.
    Tive a sorte de ter pais que souberam dar-me exemplos como sei que tu, igualmente, tens também.
    Parabéns por isso e obrigado pelo comentário.
    Beijinhos Bárbara.

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