quarta-feira, 17 de maio de 2017

AVENTURA MARROCOS 2017 - VII




Sexta-feira, dia 5 de Maio ... era o último dia da nossa Aventura Marrocos 2017.

A "empresa" que sempre constituímos para estas passeatas estava a ficar descapitalizada (cada um dos participantes comprou 500,00 de acções) e tínhamos bilhetes para ir a Jerez ver as corridas numa extrema gentileza de Sua Excelência Reverendíssima Eminência, o Sr. Nelo Teixeira que, em troca de o levarmos connosco a passear por Marrocos nos presenteou com os almejados tickets. 😉

Partimos do hotel em Meknès cedo como, de resto, sempre fazemos ... "rolamos" o mais possível de manhã e quando chegamos aproveita-se para o que for oportuno.

O trânsito em Meknès é um inferno ... no dia anterior, ao final do dia, já tinha tido oportunidade de constatar como era... mesmo em frente ao hotel, um automobilista derrubou uma scooter e os dois jovens que nela viajavam.
Depois duma exaltada troca de palavras em árabe, tudo ficou resolvido com umas palmadas no ombro e uns sorrisos.

Este episódio trouxe-me à memória um outro, o ano passado, em Chefchaouen em que um taxista abalroou um outro automóvel ...
Saíram ambos os condutores que conferiram os estragos (almolgadelas ligeiras em ambas as viaturas), trocaram algumas palavras, cumprimentaram-se e ... cada um foi à sua vida. 😀

Pensei para comigo que, se fosse em Portugal, vestiam-se os coletes, colocavam-se os triângulos à distância regulamentar, telefonava-se aos familiares mais próximos enquanto a GNR ou a PSP (ou mesmo ambos) compareciam, juntavam-se populares que iam "mandando uns bitaites", as autoridades mediam as distâncias com o "carrinho", preenchia-se a papelada dos seguros, da polícia, mais um telefonema ao amigo mediador do seguro ... e com tudo isto estava perdido um dia e trabalho e 1001 chatices para resolver  😀

Bem ... mas isto agora não interessa para nada como diria uma conhecida apresentadora de TV 😉

Depois de vencido o trânsito matinal de Meknès, tomámos o trajecto mais óbvio de quem queria ir para Norte: a N13 e depois a N2 já perto de Chefchaouen.
Estas importantes vias de comunicação marroquina são muito movimentadas. Nelas cruzámo-nos com dois numerosos grupos de motard's e muitos mais a "solo".

O dia estava meio "farrusco" e ameaçava mesmo chover ... contrastando com os que tínhamos desfrutado neste nosso tour, sempre quentes e limpos.


Toda esta região mais a norte de Marrocos tem um importante pendor agrícola, mercê do clima mais húmido.




Apesar da ainda incipiente mecanização é possível ver grandes áreas de trigo, em diferentes estados de maturação e que fazem das encostas e das planícies uns autênticos puzzles de curioso colorido.



Os vários controlos policiais por que íamos passando, apenas nos cumprimentavam e faziam mesmo parar o restante trânsito para a nossa passagem.

Curioso como, a partir do momento em que identificámos claramente os nossos destinos e pontos de passagem, não mais fomos "controlados". 👍
E quando o fomos, os educados e polidos agentes desfizeram-se em desculpas pelo tempo que nos tinham feito perder. 👍


Enquanto rolávamos para Norte, eram cada vez mais evidentes as diferenças na paisagem ... longe já estavam as montanhas e planícies áridas ... com as únicas manchas verdes a situarem-se nos estreitos vales humedecidos pelos exauridos cursos de água.


E os kms iam-se "fazendo"... uma passagem bem perto da bela "cidade azul" Chefchaouen que tínhamos conhecido o ano passado.








Passagem por Tétouan, a maior cidade do norte de Marrocos e donde derivam as mais importantes vias de comunicação para todo o Sul.



E em pouco tempo percorremos os cerca de 40 kms até à fronteira em Ceuta.

Eram cerca de 13:00 e estava um caos, um inferno !!! ... filas de kms de carros, furgonetas, ... todo o tipo de veículos carregados até mais não poder. Era sexta-feira e acho que a maior parte da população tinha decidido sair do país. 🤔

No entanto, a polícia, à nossa aproximação mandava-nos avançar, retirava barreiras da estrada, indicava-nos desvios, ... não sei se por todos envergarmos coletes verdes que conferiam uma imagem de "grupo" e não éramos apenas vários motociclistas ... 🤔

Como habitualmente eu e o João Machado recolhemos a documentação dos colegas e vamos tratar das formalidades ... eu sei ler e ele sabe escrever, ... fazemos uma boa dupla 😀

O caos que se vivia na fronteira obrigou-nos a alguma "ginástica" ... lá conseguimos num contentor afastado da confusão falar com 2 oficiais de fronteira que procederam aos imprescindíveis "tamponer" dos documentos e há que pôr a caravana em marcha ...

Mesmo assim, 10 motos no meio daquele trânsito há horas parado não era fácil... e não foi. O Zé Carlos ficou para trás da "portagem" e a distância que sobrava entre a viatura que lá estava e o lancil não era suficiente para a mota passar ... pedi aos automobilistas da frente para avançarem 1 metro e um deles respondeu-me que já ali estava desde as 05:00 e agora os gajos das motas ...😵

Conclusão... eram já cerca das 15:00 quando finalmente saímos daquela confusão... rumámos ao cais de Ceuta para apanhar o ferry... que só era às 18:00 ... o que nos deu tempo para ir "comer uma bucha" num parque de estacionamento junto a uma praia de onde se avistava o porto.

Todos a bordo e desta vez com mar calmo ... o Jet Ceuta da FRS é fantástico... faz a viagem em pouco tempo o que nos convinha pois em Espanha ainda nos esperavam cerca de 100 kms até Chiclana de la Frontera, onde tínhamos alugado para todos uma fabulosa moradia ... piscina, churrasqueira que usámos para as nossas refeições, enorme pátio fechado onde as motas ficavam resguardadas ... não fazemos por menos 😀

Bem... e no dia seguinte seria a ida até Jerez para dar cabo dos ouvidos !!!! 😠




terça-feira, 16 de maio de 2017

AVENTURA MARROCOS 2017 - VI





 Neste nosso sexto dia de tour por Marrocos, 5ª feira, saímos de Agoudal cerca das 08:00 depois dum fausto e regalado pequeno almoço no Auberge Afoud.

Como já tinha referido na anterior crónica, considero que este pequeno hotel foi o local onde melhor fomos recebidos, quer pela simpatia e hospitalidade quer pela excelente qualidade do que nos foi presente.
Este pequeno almoço, por exemplo, ficou na retina (e papilas gustativas) de todos ... panquecas caseiras feitas "na hora", ovos recolhidos momentos antes na capoeira "mesmo ali ao lado", doces variados nitidamente de confecção caseira ... e o pão !... ah, o pão !!!!.... uma delícia sem dúvida 😀

Depois de termos aceite a sugestão do proprietário de que o melhor caminho , apesar de querermos ir para Norte, seria voltar um pouco a Sul pela R703 até Ait Hani e depois em direcção a Amellagou pela P7103, havia que abastecer pois algumas da "motoretas" que faziam parte da excursão têm pouca autonomia 😀


E assim foi... tivemos que fazer fila nas "bombas" lá da terra 😀

A R703 nada tem a ver com a R704 que tínhamos percorrido no dia anterior e que provocou algum stress.

Exactamente da mesma categoria (Regional) e absolutamente iguais em mapa, esta é em asfalto, tem curvas largas e bem desenhadas ... apenas têm em comum ser em montanha e partilharem as soberbas paisagens que ainda hoje, estou certo, todos temos na memória. 👍



As paisagens que nos foram sendo dadas de presente foram como que uma recompensa espiritual pelos sacrifícios feitos no dia anterior ... longas curvas que permitiam ver os profundos vales quer à direita quer à esquerda, pequenos segmentos de recta que davam o tempo suficiente para olhar para as montanhas e deliciar-nos com a beleza das curiosas e bizarras formações geológicas.


Percurso de verdadeira montanha, rendidos à estranha beleza da sua aridez, fomos avançando até Ait Hani, pequena aldeia situada no vale do Oued Todhga (Rio Todra)




... sim, o mesmo que uns kms mais a sul passa nas famosas gargantas com o mesmo nome e que, generosamente, concede aos seus habitantes o fértil vale com igual designação.




Em Ait Hani, deixámos a R703 e tomámos a P7103 para Amellagou como previsto ... é uma estrada mais estreita, piso mais degradado e com maior grau de dificuldade ...


Esta estrada atravessa várias pequenas povoações de impronunciáveis nomes mas todas elas com o característico quadro das pequenas aldeias marroquinas ... casas construídas em lama e palha, sem telhados, exíguas aberturas, baixas ... apenas se destacando em todas elas a "torre sineira" das suas mesquitas.




Fomos sempre acompanhando o vale todo ele aproveitado para as culturas locais.



Como creio já ter referido, a experiência ensinou os marroquinos a não fazer mais pontes em locais de enxurrada ... porque simplesmente desapareciam com elas... simplesmente rebaixam as estradas nos locais mais críticos.

Em Marrocos não chove regularmente mas, quando chove é a sério !!! ... chuvas diluvianas provocam enxurradas e catastróficas cheias mesmo em locais áridos e desérticos deixando evidentes sinais da sua revoltosa e irada passagem.



e estas as "verdadeiras" gargantas do Todra ... kms de estrada pelo vale na "sombra" das falésias ...


À maneira que íamos avançando e ao aproximar-nos da concorrida N13, a paisagem ia-se alterando ... a alta montanha dava lugar a planícies mais despidas de vegetação contrastando com o frondoso e verdejante vale que, até ali tínhamos acompanhado.


Há tipos vaidosos com a sua mota e eu sou um deles ... reconheço 😀


Entretanto, uma breve paragem num "estaminé" de olaria marroquino, proporcionou uns agradáveis momentos em que nos foi possível divulgar o folclore e etnografia lusos. 






Paragem em Midelt para almoço, uma vez mais em modo pic-nic com as conservas que levámos de Portugal ... como já referi em anterior crónica, levámos as conservas e as "buídas" e íamos comprando pão e fruta de acordo com as necessidades.

Há várias vantagens neste modo e viajar: a melhor gestão do tempo/distâncias e os menores custos orçamentais da viagem.

Assim "por alto", cada um dos membros da comitiva não gastou mais de 650,00 incluindo combustível e alojamento... os souvenirs não entram para estas contas pois há tipos cujas namoradas/esposas/companheiras são mais exigentes que outras. 😀


Midelt é uma importante cidade da região central de Marrocos e capital da província com o mesmo nome.
Com cerca de 50.000 habitantes faz como que uma espécie de fronteira entre o médio e o alto Atlas.

E assim fomos percorrendo a N 13 em direcção a Meknès, numa zona mais fértil e com agricultura bastante desenvolvida, nomeadamente a do trigo, embora ainda pouco mecanizada.

E o final de dia foi em Meknès, depois de percorridos pouco mais de 430 kms desde o início da jonada em Agoudal.

Meknès é a cidade-capital da província também assim chamada. É uma das chamadas cidades imperiais dada a sua importância histórica tendo mesmo sido capital nos sec. XVII e XVIII.

Ponto de visita obrigatório em Marrocos pela profusão de monumentos e história, merece visita demorada ... o que não nos era permitido porque chegámos já cerca das 18:00 e o dia seguinte, tal como todos os outros, iria começar cedo. 😛

Tratando-se duma grande cidade nem nos demos ao cuidado de marcar alojamento pelo que dois de nós foram a outros tantos hotéis "negociar" o respectivo preço. 😉

E o dia terminou com uma jantarada "à maneira" num restaurante bastante "ocidentalizado" perto do hotel... a "empresa" ainda tinha saldo positivo e foi "à fartazana" 😀



domingo, 14 de maio de 2017

AVENTURA MARROCOS 2017 - V





3 de Maio, 3ª feira, o dia que ficará na memória de todos nós que embarcámos nesta Aventura Marrocos 2017.

Saímos de Merzouga cedo como habitualmente .... todos os elementos do grupo são cumpridores e ninguém tem que esperar por ninguém ... a maioria de nós já se conhece há uns anos e ... só assim é que as coisas correm bem e apesar dos milhares de kms nunca houve nenhum acidente pois todos cumprem disciplinadamente as regras do grupo ... 👍

Bom... saímos então de Merzouga com destino às Gorges du Todgha e Dadés. Alguns de nós já conheciam e, por isso, achámos que os que nunca lá tinham ido, iriam apreciar aquelas belezas naturais.





Vencemos os cerca de 40 kms até Rissani pela N 13, única estrada por aqueles lados, onde tomámos a N 12 em direcção a Tinghir para as Gorges du Todgha (Gargantas do Todra).

De Tinghir às gargantas são pouco mais de 15 kms em estrada bastante razoável, com curvas "a preceito" a paisagens lindíssimas ...

Em boa parte do seu percurso a estrada acompanha o fértil oásis que o Rio Todra proporciona aos habitantes e é uma delícia observar aquele vale preenchido com rectangulares hortas e culturas.👍


E para além de nós, havia outros !!!! 😀




A foto de grupo no turístico miradouro entre Tinghir e Ait Oujana. 



Estas gargantas naturais escavadas pelo Rio Todra ao longo dos séculos, especialmente na época de chuvas (em Marrocos, quando chove, chove mesmo com violência ... em Merzouga, por exemplo, que é um "deserto", nas cheias de 2005 foram destruídas dezenas de casas, estradas, pontes, ... ), são uma bonita atracção turística ... e justificadamente, em minha opinião.




Vistas estas Gargantas do Todra, voltámos pela mesma estrada (R703) para ir às do Dadés.

Assim, de volta à N 10 e, em Boulmane Dadés, pela R 704 que nos iria "dar água pela barba" nesse dia 😀

Uma paragem nesta pequena cidade para comprar pão e "alcaguoitas" 😀



Esta estrada R704 para as Gargantas du Dadés é em tudo parecida com a R703 para as du Todra ... pelo menos a princípio.





Foto da garganta do Dadés obtida no seu ponto mais alto, no terraço do restaurante lá existente


E a "serpente asfaltada" que é preciso vencer para lá chegar 😵


Bem, mas estas são as "vistas" mais conhecidas destas gargantas ... se se continuar pela R704 ou circular pela R703 ... aí sim, os viajantes terão acesso a paisagens que não mais esquecerão.


Depois do almoço no terraço do restaurante (uma vez mais em "modo conserva, pão e vinho") decidimos continuar pela R704.



Pelo mapa tudo indicava que fosse boa, questionado um motorista de mini-bus que à pergunta se a estrada era boa para motos me respondeu "Par moto? ... parfait m'sieur" ... 🤔 ... e aí vamos nós !!! 😀





Dali a Agoudal, nosso destino para esse final de dia, eram cerca de 100 kms e, se a estrada fosse mesmo sempre assim ... era "porreiro pá" como diria um conhecido político cá do burgo.




As paisagens era assim ...


Fomos avançando e a estrada começou a estar "cortada" várias vezes para obras que decorriam ... os desvios começaram a ser comuns até que o asfalto desapareceu por completo... embora o piso em terra não fosse mau de todo.

Uma pequena paragem na localidade de  M'Semrir para um chá num "estaminé" local ...

Aí, estavam 3 motard's italianos que circulavam em sentido contrário ...
Claro que lhes perguntei se a estrada para Agoudal era boa, ao que me responderam: "a un pezzo di terra, ma ..."



Bem... de pedaços de terra já nós estávamos veteranos e mesmo olhando prás motas deles todas cheias de pó (2 Gs e uma outra trail de que já não lembro a marca), pensei que há malta que umas semanas antes de ir para Marrocos nem lava as motas porque parece bem andar lá e regressar com elas cheias de terra ... 😀

prosseguimos .... e meia dúzia de kms adiante chegámos a um local onde a picada se dividia em duas ... uma para a esquerda e para baixo, mais "calcada" e com piso aparentemente melhor ... a outra, para a direita e para cima, em cascalho, gravilha, pedra, ... em muito pior estado.

Do local, eram estas as "vistas" ...







E o Zé Carlos tinha razão... o que nos esperava era "apenas isto" ...


Muitos kms de péssima pista, piso bastante irregular com pedras soltas, gravilha e cascalho, ... profundos precipícios perigosamente perto de nós ...



Sempre a subir, o ponto mais alto estava a mais de 3.000 metros de altitude... lembrei-me de registar através duma foto ao GPS quando já estávamos a descer ...


Percurso muitíssimo perigo mas duma beleza que as fotos não conseguem transmitir ...





Nesta foto, em que me atrasei um pouco, com algum esforço pode ver-se ao longe e já a subir o Narciso com o Zé Carlos logo atrás ....








Nesta foto eu próprio com o Miguel "Postiço" numa pequena pausa para uma foto ... 





E de facto foi preciso alguma dose de sorte aliada à experiência da maior parte de nós e do cuidado, responsabilidade e concentração que colocámos nesta tarefa...



Apenas uma pequena queda num dos inúmeros "ganchos" que partiu o poisa-pé esquerdo da Varadero do Daniel, mais tarde reparado em Agoudal.



E eis-nos chegados, já em final de dia ao auberge Afoud em Agoudal, pequena aldeia de pastores.

Recomendo vivamente este alojamento de cariz familiar: Quartos de decoração simples mas limpos, sala de refeições acolhedora, cozinha tradicional marroquina confeccionada pela mulher do proprietário (on parle français) sempre disponível e solícito.

Quando chegámos e nos viu "de volta" da Varadero, logo foi buscar ferramentas e tratou de "remediar" o percalço. 6 Estrelas ****** 👍



E depois da reparação, dum reconfortante duche ... o excelente jantar nas famosas tagines locais.





Bem... e depois de jantar, porque havia uma viola, mais ou menos afinada, "cantou-se o fado" 😀


Em resumo, este foi o dia mais intenso, chamemos-lhe assim, desta nossa aventura por Marrocos.

As já nossas conhecidas "gargantas" do Todra e do Dadés numa outra perspectiva 😀.