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Vida de Mulheres e de Jogo

Há duas mulheres que marcam a minha vida de forma distinta.

São elas as minhas filhas Patrícia e Joana.

Pela mais velha, a Patrícia, há como que um carinho especial talvez motivado pela prolongada ausência de contacto entre nós … quando a reencontrei já não era a menina que bebia comigo uma “bica” apenas de àgua suja de café na “MariLima” e nem atirava caracóis aos peixes do poço do avô João  nem dava comida às galinhas, patos e coelhos com a avó Alice ….

Era uma mulher adulta, que tinha constituído família, embora apenas ela e o Pedro, seu companheiro de então, hoje seu marido e pai dos seus dois filhos, Francisco e Gabriel …

Pela Joana sinto aquilo que acho que todos os pais sentem pelos filhos mais novos …

Sei que não é fácil explicar mas ouvi um dia alguém dizer, relativamente aos cuidados que se têm com os filhos:

“O 1º filho … fervemos os biberons até ao ano de idade, roupas lavadas com sabões especiais, as papas apenas iniciadas nas  datas que o pediatra indicou … nem pensar em levar as mãos aos sapatinhos pois ficam infestadas de bactérias e micróbios que …

O 2º filho … já só se fervem os biberões de vez em quando, a roupa é lavada à-parte da da restante família mas com detergentes normais, e o bébé vai comendo á mesa umas migalhas que a família lhe distribui para se habituar à “nossa” comida … se mexe no vaso com terra e leva a mão á boca, fazemo-lo ingerir uma beberragem de desinfectante  com pelo menos 10 vigorosas bochechadelas .

O 3º filho … esse, coitado …

Bebe leite no copo do pai ainda com restos de vinho , come com a familia á mesa, sopa de feijão e nabiças que lhe dão cabo do rabinho e o fazem mudar de baby-grow mais vezes do que o habitual porque as fraldas não aguentam tanta caca, a roupa é misturada com a do restante pessoal da casa e chega mesmo a vestir meias e cuecas dos irmãos, … e se mexe no vaso e come a terra das plantas, toda a malta se ri ao ver a boca dele toda suja … “

É capaz de ser assim uma coisa parecida …

Os irmãos mais novos crescem mais depressa pois para além de aprenderem com os pais mais relaxados  após o stress do 1º filho, vêm nos irmãos mais velhos exemplos a seguir e, quais “macaquinhos de imitação”, despertam mais cedo e desenvolvem-se mais rapidamente.

Acusam-me de ser mais permissivo, mais tolerante, … numa palavra, mais desleixado… talvez tenham razão mas acredito ainda que, em cada um de nós, há um momento em que reconhecemos “pá, chegou a altura de ser adulto ... tenho que me comportar”.

Esse dia chegará, estou certo … e quando entrar no quarto este estará arrumado, sem botas, sapatos e chinelos no chão, sem a toalha de praia estendida aos “pés-da-cama”, a roupa estará organizada no roupeiro e nos gavetões, estará apenas roupa lavada e em condições de vestir … e de tamanhos que ainda lhe sirvam.

As luzes ficarão desligadas depois da sua passagem e os post-it espalhados terão ainda as datas dentro da validade, … o facebook continuará a ser importante na sua vida mas deixará de ter o papel MAIS IMPORTANTE, … e os seus amigos e amigas serão mais adultos também e com comportamentos semelhantes …

Ah… e já esquecia … e será capaz de falar com a mãe e o irmão sem discutir ao fim de 13 vogais e 7 consoantes … altura em que eu intervenho normalmente para aumentar o volume da “conversa”

A minha vida é como um jogo …

Sou um actor neste teatro de sensibilidades e comportamentos que quer estar de bem com todos pois “todos” me são queridos de igual forma.

E embora saiba que, para uns, um sorriso e uma piscadela de olho são suficientes e percebidos de maneira que não é possível haver enganos e equívocos (a tal linguagem em 3D que só alguns entendem)… para outros, a “conversa” tem que ser mais elaborada e tida de forma mais calma, explicada e sensível …

É assim, somos todos diferentes e esta diversidade é que nos encanta.

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