Como comuniquei há uma semana atrás, fui em peregrinação a Santiago de Compostela.
Era uma "coisa" que me fascinava e que há alguns anos tinha decidido fazer sem que, até ao momento, nunca tivesse sido possível.
Felizmente para mim, fui bafejado pela sorte dos escolhidos a poder percorrer o Caminho Português de Santiago.
Apesar de no 1º dia ter partido a máquina fotográfica e no último ter perdido o telemóvel onde tinha acumuladas as fotos que fui fazendo pelos 7 dias de percurso, considero-me um tipo muito feliz pela experiência vivida.
Procurei saber algumas coisas sobre Santiago e, resumidamente, foi-me explicado na catedral em Padrón, que Jesus disse aos seus apóstolos que fossem pelo mundo pregando a sua doutrina tendo Tiago vindo para a região que é, hoje, a Galiza.
É um monumento que visitei na véspera do dia 25 de Julho, dia de Santiago e feriado mais importante para a Galiza ( dia do Patrón) e onde preparavam os andores de Santa Lúcia, Santiago e, curiosamente, Santo António de Lisboa, para a romaria.
Santiago terá vindo para a actual Galiza, pelo Rio Sar até Padrón, na época um importante porto romano para "hacer la predicacíon" (fazer a evangelização).
Ao fim de alguns anos, os apóstolos reuniram-se em Jerusalém para um concílio, tendo Santiago sido decapitado pelos romanos, por ordem de Herodes Agripa.
Tinham ido consigo dois rapazes galegos, Atanásio e Teodósio, que roubaram o corpo e o trouxeram de barco para Padrón.
Diz ainda a tradição que não sendo possível sepultar o seu corpo em Padrón, foi levado num carro de bois para um monte, hoje Compostela (Campus + Stella) que é resultado doutra tradição em que se conta que o apóstolo Tiago apareceu a Carlos Magno para lhe explicar o significado das estrelas da via láctea ... tendo ele fundado um campo (campus) para observar as estrelas (sttela).
Bom, deixando de parte estas tradições que se confundem, quero deixar-vos o meu testemunho sobre o Caminho Português de Santiago.
Foi uma experiência inolvidável e, se possível, a repetir já no próximo ano ...
Comecei no sábado em Valença, cerca das 17:30 o percurso.
Credencial do Peregrino adquirida e carimbada no Albergue S. Teotónio, e percorri a vila muralhada pelo caminho (muito bem marcado) até sair na porta do baluarte mais a norte e virada a Tuy.
Atravessada a ponte "Eiffel" que liga Valença a Tuy e durante muitos anos o único elo de ligação entre o Minho e a Galiza, estava dado o "tiro de partida" para esta fantástica aventura com cerca de 5 kms para "aquecer"
E estávamos a 114 kms de Santiago ...
No dia seguinte, a meta era Porriño ... mais ou menos 16 kms.
O percurso foi marcado por alguma chuva que apenas serviu para que não se transpirasse tanto e tornasse a terra dos caminhos florestais mais macia e húmida.
O terceiro dia foi em Redondella, após cerca de mais 16 kms por entre florestas, vinhedos e milheirais ... e vistas belíssimas sobre as Rias Baixas.
De vez em quando o caminho cruzava-se com a N550 e era preciso fazer alguns metros em alcatrão ... mas nada que estragasse a beleza do percurso.
Muitos dos percursos são coincidentes com a Via Romana XIX.
Esta importante via romana, também conhecida por Itinerário de Antonino, unia as capitais da época: Bracara Augusta (Braga) e Astúrica Augusta (Astorga) passando por Lucus Augusti (Lugo) e era a mais longa de todo o NW Hispânico.
Placa informativa acerca dum marco miliário que encontrámos no "camiño"
Nesta foto, um dos muitos marcos indicadores do caminho de Santiago... a posição da vieira indica a direcção que os peregrinos devem tomar (neste caso a direita) e a informação sobre a distância que falta até à catedral (no caso, 109,278)
Nesta segunda etapa, de Tuy a Redondella, e porque era domingo, tivemos a felicidade de nos "cruzarmos" com uma festa na aldeia de Sancampio.
Missa campal, carrosséis, comes-e-bebes, procissão, filarmónica, ... muito giro !!!!
e onde aproveitámos para descansar e refrescar-nos com unas "cervezas" ... eu e o João Nogueira bebemos uma 1906 que custou 2,00 ... a Helena pediu uma "cerveza" e teve direito a uma de 2,50 ... esta é melhor disse-lhe o tipo da tasca !!!
Paragem para descanso em Redondella, no albergue "O Camiño", albergue privado e onde o João Nogueira tinha tratado já das reservas...
Nos albergues públicos (5,00 noite) não é possível a reserva... fica quem chega primeiro e, às vezes, é uma tourada ... quando numa localidade o albergue é maior e o da etapa seguinte tem menos camas, alguém vai ficar "agarrado".
Restam os albergues privados com custos entre os 12,00 e os 15,00/noite.
O destino seguinte era Pontevedra, cidade muito bonita e cosmopolita onde estavam a decorrer várias manifestações culturais de que destaco um serão de jazz fantástico ...
Foto do albergue de Pontevedra, grande, com capacidade pelo que me lembro para cerca de 80 camas.
Voltei a encontrar lá um grupo de escuteiros de Samora Correia que, na altura, estavam a preparar o jantar: arroz de escuteiro (quem foi sabe a que me refiro)
Os caminhos que percorríamos eram assim... maravilhosos
E faltavam ainda todos estes kilometros...
e aqui a Ponte Sampaio, onde se travou uma dura batalha entre os camponeses galegos e as tropas invasoras francesas ...
E aqui o meu equipamento ... aqui ia tudo o que era preciso
Uma das coisas que se aprendem nos caminhos de Santiago é que é possível viver-se com muito pouco ...
3 t-shirt's, 3 cuecas, umas calças e uns calções, 3 pares de meias, umas botas/sapatilhas para caminhar e umas havaianas para descansar, um casaco e/ou impermeável, escova de dentes e sabão para lavar a roupa ... nada mais nos faz falta.
Do caminho, por entre as árvores da floresta, avistavam-se paisagens de inegável beleza ... no caso a baía de Pontevedra.
Era assim o camiño ...
E este jovem casal russo que transportava consigo um bébé de apenas 6 meses !!!...
"Crazy" disse eu .... "Why crazy" perguntou ela?... fique sem saber porquê mesmo ... é verdade... basta querer e o sonho acontece ...
Outra coisa curiosa é que, mesmo fazendo o caminho sozinho, nunca se está verdadeiramente só ... vamo-nos cruzando com peregrinos que voltam de Santiago e que vão para Fátima, vamos ultrapassando peregrinos com andamento mais lento e com quem trocamos um "Bom dia ... Bo camiño" ... nunca se está só.
E de Pontevedra a Caldas dos Reyes foram apenas pouco mais duma vintena de kms e cerca de 4 horas de intensa caminhada.
Uma vez mais o "camiño" foi muito belo e fresco ...
Outra coisa curiosa é que, mesmo fazendo o caminho sozinho, nunca se está verdadeiramente só ... vamo-nos cruzando com peregrinos que voltam de Santiago e que vão para Fátima, vamos ultrapassando peregrinos com andamento mais lento e com quem trocamos um "Bom dia ... Bo camiño" ... nunca se está só.
E de Pontevedra a Caldas dos Reyes foram apenas pouco mais duma vintena de kms e cerca de 4 horas de intensa caminhada.
Uma vez mais o "camiño" foi muito belo e fresco ...
no começo do dia, em Pontevedra, faltavam para Santiago 63,183 kms
E foi assim o amanhecer em Pontevedra ...
Numa das poucas vezes que caminhámos na N550
no entanto, pelo Caminho de Santiago, a distância era esta ...
Nestas fotos podemos ver um material rochoso muito característico da Galiza e do Minho: o Granito
É tão abundante que as latadas das vinhas e os muros de separação de propriedades, são feitos com lajes inteiras de granito.
Até as pontes que atravessam ribeiros e pequenos riacho, são feitas com compridas lajes de granito que vão de margem a margem.
E a minha "caderneta de cromos" estava a ficar composta ...
e eis-me chegado a Caldas de Reyes ...
Trata-se duma pequena vila termal, conhecida porque os reis de Espanha costumavam ir banhar-se naquelas águas que curavam (ou pelo menos aliviavam) alguns males.
Também eu, apesar de não ter sangue real, aproveitei e fiz meia hora de jacuzzi, uma hora de piscina e mais maia hora de massagem nas pernas ... se a miúda da massagem soubesse cozinhar e passar a ferro ... !!!
Tempo para refrescar com uma "caña" ...
e eram estes os petiscos... mexilhões e sardinhas
E a etapa seguinte, a sexta, tinha como destino Padrón.
Não... não fui de comboio ... os carimbos (ou sellos) comprovam-no
Cidade simpática e que se preparava para o feriado do dia seguinte: 25 de Julho, dia do patrono Santiago, "el dias más importante de Galícia, el dia do patrón" segundo me disseram.
Uma movida nocturna fantástica, um final de dia repleto de manifestações culturais... corrida de burros, gaiteiros e grupos de dança galega ...
Bastava fechar os olhos e dir-se-ia que estávamos em Podence, Vinhais, Bragança, ... tal a semelhança de timbre ...
Se dúvidas restassem sobre a origem comum destes povos ... estavam esclarecidas.
Já não faltava muito ...
e o "camiño" continuava belíssimo e convidativo a caminhar e meditar sobre o verdadeiro "sentido da vida"
Assim parece que nem custava caminhar ...
lindo ...
Nalguns "marcos" para além da vieira a informação era completada com uma seta.
Para quem não sabe, o caminho está muito bem sinalizado e facilmente identificável.
As setas amarelas ou amarelas e fundo azul, com as vieiras nas paredes, muros e marcos, indicam aos peregrinos a direcção de Santiago.
É igualmente frequente verem-se junto a estes sinais, umas setas azuis, em direcção contrária, que apontam o caminho para Fátima.
É comum encontrar-se peregrinos de quem vêm de Santiago para Fátima e a direcção que seguem é indicada por estas setas azuis.
A última etapa, Padrón a Santiago, correu-ma muito mal ...
Após uma foto a um marco que indicava que para Santiago faltavam 4,050 kms, não mais vi o telemóvel ...
Dei por falta dele quando cheguei ao marco que informava faltarem 2 kms e, ao querer fazer uma foto... nada.
Voltei atrás os 2 kms que tinha percorrido, perguntando aos peregrinos com quem me cruzava se tinham visto o aparelho ... pedi a um que ligasse o número mas estava já desligado.
Azar ... estavam lá fotos bem bonitas.
Bem... uma confusão enorme em Santiago pois, para além de ser o seu dia, os Reis de Espanha iriam assistir à missa das 12:00, precisamente aquela a que estava disposto a ir.
Muita polícia, revistas, filas ... e não me deixaram entrar na praça com a mochila.
Tive que ir à Oficina del Pelegrino para deixar a mochila e tratar de obter a certificação de peregrinação e respectivo diploma, a primeira imagem deste post.
Resumindo ...
Fantásticos momentos de peregrinação e caminhada ... há quem o faça "just for fun", outros porque têm razões religiosas e/ou espirituais ... outros apenas porque sim.
Eu declarei, para a emissão do diploma, que as minhas razões eram espirituais ... quis pedir ao apóstolo Tiago que me ajudasse a virar uma dolorosa página da minha vida e fizesse com que olhasse o futuro de frente, com o coração cheio de alegria e esperança.
Não deixará de interceder por mim estou certo.
Ah... aproveitei e pedi por todos os que me são queridos.
Nesta foto, eu com uma senhora alemã e duas "miúdas" italianas, na fila para certificação do peregrino.
Para quem não sabe, o caminho está muito bem sinalizado e facilmente identificável.
As setas amarelas ou amarelas e fundo azul, com as vieiras nas paredes, muros e marcos, indicam aos peregrinos a direcção de Santiago.
É igualmente frequente verem-se junto a estes sinais, umas setas azuis, em direcção contrária, que apontam o caminho para Fátima.
É comum encontrar-se peregrinos de quem vêm de Santiago para Fátima e a direcção que seguem é indicada por estas setas azuis.
A última etapa, Padrón a Santiago, correu-ma muito mal ...
Após uma foto a um marco que indicava que para Santiago faltavam 4,050 kms, não mais vi o telemóvel ...
Dei por falta dele quando cheguei ao marco que informava faltarem 2 kms e, ao querer fazer uma foto... nada.
Voltei atrás os 2 kms que tinha percorrido, perguntando aos peregrinos com quem me cruzava se tinham visto o aparelho ... pedi a um que ligasse o número mas estava já desligado.
Azar ... estavam lá fotos bem bonitas.
Bem... uma confusão enorme em Santiago pois, para além de ser o seu dia, os Reis de Espanha iriam assistir à missa das 12:00, precisamente aquela a que estava disposto a ir.
Muita polícia, revistas, filas ... e não me deixaram entrar na praça com a mochila.
Tive que ir à Oficina del Pelegrino para deixar a mochila e tratar de obter a certificação de peregrinação e respectivo diploma, a primeira imagem deste post.
Resumindo ...
Fantásticos momentos de peregrinação e caminhada ... há quem o faça "just for fun", outros porque têm razões religiosas e/ou espirituais ... outros apenas porque sim.
Eu declarei, para a emissão do diploma, que as minhas razões eram espirituais ... quis pedir ao apóstolo Tiago que me ajudasse a virar uma dolorosa página da minha vida e fizesse com que olhasse o futuro de frente, com o coração cheio de alegria e esperança.
Não deixará de interceder por mim estou certo.
Ah... aproveitei e pedi por todos os que me são queridos.
momento final de recolhimento e meditação
Gostei tanto, mas tanto .... que repetirei assim Deus me ajude.
Nota: o título deste post, "Bo Camiño", é a expressão galega que todos os peregrinos usam quando se cruzam com outros peregrinos.
Ainda depois de tudo isto, o meu telemóvel continua sem funcionar ... acabaram de me dizer na Vodafone que houve erro na activação da 2ª via do cartão ... fónix !!!!!
Ainda depois de tudo isto, o meu telemóvel continua sem funcionar ... acabaram de me dizer na Vodafone que houve erro na activação da 2ª via do cartão ... fónix !!!!!
Bem vindo a casa "Camiñero"
ResponderEliminarConfesso que já estava com saudades de te "atazanar" a paciência com os meus comentários.
Folgo em saber que tudo correu tão bem e que ficaste fãn....
De qualquer das maneiras só poderia ter corrido bem pois ias em boa companhia, com um tipo fixe, bem disposto, amigo do seu amigo, etc...ou seja contigo mesmo!!!
A propósito da "lenda" de Santiago de Compostela" vi um programa recentemente ( mas não me lembro em que canal) sobre os verdadeiros restos mortais sepultados na Catedral. Segundo o programa esses restos mortais seriam de um vulgar soldado romano e nada teriam a ver com "São Tiago" e com a lenda que se criou à sua volta.
Essa história teria sido inventada pela Igreja para enriquecer as suas "hostes" tal como faz em Fátima.
Mas o que isso interessa...se o que move as pessoas continua a ser a sua Fé.
Eu, sendo uma católica por baptismo, mas descrente no culto de personalidades continuo a ter somente uma Fé: Fé nas pessoas e na sua capacidade de se superarem.
Beijo
Carla
Obg Carla.
EliminarCom histórias inventadas ou não, é importante que haja a "tal" Fé que nos move.
Bjokas