No outro
dia, ouvi o Malaca Casteleiro dizer que o Acordo Ortográfico em que trabalhou
incansavelmente ao longo de anos e anos teve por objectivo uniformizar a língua
entre todos os países de expressão portuguesa.
- Assim sendo, os brasileiros têm
rabo ou somos nós que vamos passar a ter bunda?
- E as senhoras, as de cá
passarão a usar calcinha ou são as de lá que usarão cuecas?
- De fato eles vestem fato ou
nós, de facto, de futuro envergaremos terno?
- O governo de cá rouba-nos a
grana ou é o de lá que lhes sonega o carcanhol?
- Passamos a ir à lanchonete ou
são eles que vão ao café?
- Vamos beber um bagaço à tasca ou uma cachaça ao boteco?
- E o tipo que defende a baliza,
é para eles guarda-redes ou, para nós, será goleiro?
- E como nos passaremos a mover?
Nós de trem, ônibus, bonde, ou eles de comboio, autocarro, eléctrico?
- Esperamos pelo transporte na
parada ou continuaremos a fazê-lo na paragem?
- Respeitamos a bicha na paragem
ou antes a fila na parada?
- E aquele gajo porreiro, de
pêra, que vai a sair da esquadra. Vamos ter que dizer que é um cara legal, de
cavanhaque, a sair da delegacia?
- Se quisermos agrafar um
relatório, recorreremos a um grampeador ou a um agrafador?
- E se o nosso fito é afiar um
lápis, agarramos num apontador ou num apara-lápis?
- Fomos à privada e não usámos a
descarga ou fomos à retrete e não puxámos o autoclismo?
E por aqui, pela merda, me
fico. Em castelo. À Casteleiro. Em bom português, do único, porque merda é
merda, aqui ou no Brasil.
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