terça-feira, 3 de setembro de 2013

TOMAR DECISÕES



Ele era um influente administrador numa multinacional importante e estava a passar por um mau momento na sua vida pessoal.

Aconselhado pelo seu psiquiatra a tirar uns dias de férias , acedeu ao convite dum seu colega, proprietário duma herdade no Alentejo, a lá descansar pelo tempo que quisesse.

Avisado o caseiro de que o "Sr. Dr Tal" iria passar uns dias à quinta e que lhe fosse dada total liberdade e proporcionado todo o apoio que se revelasse necessário, lá apareceu um dia o homem na quinta, com um caixote de livros para ler, aproveitando o sossego e quietude do lugar.

Porém, ao fim de 2 dias, os livros estavam lidos, o tédio ameaçava instalar-se e uma crescente sensação de inutilidade começava a revelar-se ... afinal, era a única pessoa na propriedade que nada fazia. Todos os outros desempenhavam tarefas com ela relacionadas.
Ora era de tractor para ali, ceifeira prácolá, gente que guiava o gado para os pastos e para os bebedouros, outros ainda que, nos celeiros, se atarefavam com a guarda dos cereais ...

Decidiu ir ter com o caseiro oferecer-se para ajudar ... "qualquer coisa serve" disse-lhe assumindo a sua inexperiência.

O caseiro,  por um lado receoso de não lhe fazer a vontade e por outro de lhe dar alguma tarefa com mais responsabilidade que, não só não fosse capaz de desempenhar como ainda potenciasse alguma lesão ou prejuízo material nos equipamentos da quinta, decidiu-se:

- Olhe Sr Dr. ... assim de repente ... o que o Sr. Dr. podia fazer era o seguinte: está a ver aqueles montes de estrume no pousio?
- Sim, José, estou ...
- Amanhã de manhã, bem cedo pela fresca, leva uma forquilha do barracão das ferramentas, e espalha o estrume pela terra ... pode ser?
- Claro que sim José, claro que sim - exclamou radiante.

O caseiro, aliviado com o entusiasmo do Dr, pensou para consigo:
"Ainda bem, vai levar 3 ou 4 dias para espalhar o estrume e depois regressará a casa bem mais cansado e nada mais me pedirá para fazer."

No entanto, ao final do dia seguinte, o Dr apareceu ao José:
- José, já espalhei todo o estrume ... e agora, que posso fazer mais?

O caseiro José, ficou embaraçado pois não tinha nada previsto para esta situação ...

- Bem Sr. Dr. ... agora, só se for para o laranjal, com estes 3 cestos, e apanhar as laranjas grandes para um, as médias para outro e as pequenas para outro ainda ... acha que consegue?

- Claro José, claro que sim ... e logo levou consigo os 3 cestos decidido a levantar-se cedo para ir apanhar as laranjas.

No dia seguinte, José não mais viu o Dr. não tendo aparecido sequer para almoço.
Embora preocupado, decidiu não o procurar, preferindo aguardar pelo final do dia.

Ao aproximar-se o final do dia e com ele a noite, José ficou preocupado e foi procurar o Dr.
Encontrou-o no laranjal, sentado em cima de um dos baldes, com 3 laranjas nas mãos e a chorar.

- Que se passa Sr. Dr.?
- José, não consigo decidir quais das laranjas são as "grande", "média" ou "pequena" ...buááááááááááááá´.

José, assumindo uma pose sábia de mestre-escola diz-lhe:

- Sabe Sr. Dr., qualquer um pode espalhar merda mas, tomar decisões difíceis, só apenas alguns.


E, de facto, é mesmo assim ... ao longo das nossas vidas vamos "espalhando merda" por aqui e por acolá sem que isso nos cause demasiado esforço nem necessite de muito empenhamento ...
Por outro lado,  "tomar decisões difíceis"  consomem-nos e desgastam-nos, fazendo mesmo com que desesperemos e julguemos não ser capazes ...






1 comentário:

  1. Pois... dito de outra forma, se tivéssemos que encontrar soluções apenas para os problemas que NÓS criámos ... não seria tão difícil ...
    Abraço Zé e obrigado pelo comentário sempre muito apreciado.

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