4º DIA
Soissons (FR) ----> Lucerna (Suiça)
Saímos de Soissons pelas 6:30 da manhã com destino a Basileia, já na Suíça.
Como habitualmente, os planos foram traçados para as estradas secundárias onde nos sentíamos muito à-vontade e onde, francamente, se rolava bem sem os custos inerentes às auto-estradas.
Regra geral, respeitámos os limites de velocidade e, onde por exemplo a vel. máxima era 100, o “cruise-control” era regulado para os 110 o que, em velocidade real, era capaz de corresponder a 105 mais coisa menos coisa … nos 80 fazia o mesmo para os 90 ...
Para Chalons-en-Champagne, pela N4, abastecimento aos 2.459 kms e prosseguimos até Nancy.
Para Chalons-en-Champagne, pela N4, abastecimento aos 2.459 kms e prosseguimos até Nancy.
Por Reims, em direcção a Belfort, … e os quase 500 kms que nos separavam da Suíça estavam já quase devorados …
... passámos perto do Euro Airport que serve as cidades de Basileia, Mulhouse e Friburgo e, pela D-419, paralela à auto-estrada que serve também a fronteira dos dois países, e entrámos em território suíço.
Algures entre Vesoul e Belfort, parámos para "abastecer" numa roulotte e conferir rotas
Onde estivémos na cavaqueira com camionistas companheiros de estrada
Tinha perguntado a um francês se os preços dos combustíveis na Suíça eram mais caros do que em França pois as motos estavam quase na reserva … “C'est pareille” disse-me ele mas com cara e em tom de pouca convicção. “Bom … ó Silva, arriscamos pode ser que seja mais barato” disse eu ao que, uma vez mais, o Silva anuiu … estava sempre tudo bem para ele !!!
E às 13:22 (hora de Portugal) e com 2.881 kms percorridos, chegámos á Suiça.
E às 13:22 (hora de Portugal) e com 2.881 kms percorridos, chegámos á Suiça.
Recordo o atravessar da fronteira na estreita estrada, depois de termos atravessado a pequena Bourgfelden ainda em França, tendo sido recebidos com os olhares curiosos dos 4 ou 5 guardas de fronteira suíços, talvez espantados por termos interrompido a tranquilidade daquela fronteira tão pouco concorrida, na Burgfelderstrasse já em terrenos helvéticos.
A cerca de 50 mts da fronteira um posto de abastecimento e, ao olhar para os preços, disse para o Silva:
- Ó pá … já tamos f@d€%d&s !!!!! … tás a ver o preço da “gasosa” ?
- Ó João !!! … 1.843 ????????
Bem ... a única possibilidade era voltarmos atrás mas as únicas bombas de que me recordava ter visto ainda distavam uma boa dezena de kms … abastecemos mesmo assim com cara de chateados.
Quando fui pagar com o “cartãozinho”, até o tirei da bolsa de má-vontade … o sorriso regressou quando olhei para o “talão” e gritei para o Silva que ainda abastecia:
- Ó Silva … a m€rd@ dos preços estão em Francos Suíços … isto dá mais ou menos 1,5 € o litro !!!!!
Basileia, que vimos de passagem tendo passado pelo centro dá ideia, mesmo a quem nunca por lá tenha passado, da perfeição e organização dos relógios suíços.
O trânsito circula sem pressas mas sem demoras e filas, os compridos eléctricos nos carris convivem com os outros veículos de forma pacífica e organizada, os trolleys-bus fazem a sua marcha silenciosa e limpa pela cidade, recolhendo e largando passageiros obedientes e aparentando paciência e total ausência de ansiedade.
Fico agora com a ideia, ao escrever estas “memórias” de não me lembrar dum som duma buzina … curioso …
O trânsito circula sem pressas mas sem demoras e filas, os compridos eléctricos nos carris convivem com os outros veículos de forma pacífica e organizada, os trolleys-bus fazem a sua marcha silenciosa e limpa pela cidade, recolhendo e largando passageiros obedientes e aparentando paciência e total ausência de ansiedade.
Fico agora com a ideia, ao escrever estas “memórias” de não me lembrar dum som duma buzina … curioso …
Estávamos a quase 80 kms de Lucerna e era lá que queríamos pernoitar, … tínhamos ainda que ir encontrar onde dormir (tinha anotada a morada de 3 hotéis ) sem ter a certeza onde o poderíamos fazer.
São os riscos inerentes a estas viagens sem nada “programado” … ao final do dia é impossível não se gerar alguma ansiedade pela incerteza. No entanto, as vantagens são maiores, reconheço, em nada ter marcado.
Podemos chegar ao sítio combinado e ainda estarmos com vontade para “lhe dar mais uma centena de kms” ou, pelo contrário, “estamos fatigados e ficamos já aqui” ou ainda porque “este sítio é excelente, porque não ficar aqui já e visitar?”. Sou um adepto desta última modalidade, confesso.
Circulávamos já perto de Lucerna e bem junto ás margens do seu lago
O trânsito em Lucerna (Luzern, pois estávamos no cantão alemão da Suiça) era mais complicado,… talvez pela hora a que chegámos (meio da tarde).
Aproximámo-nos do centro da cidade percorrendo algumas localidades periféricas e, mesmo de moto, tivemos dificuldades em circular.
O Lions Lodge, para onde me dirigia, situa-se na parte histórica da cidade, onde tudo se pode visitar a pé, bem perto do lago, da estação de comboios, dos cais dos barcos, dos monumentos e igrejas.
É um hotel "rasca" onde nos fornecem os lençóis e fronhas no check-in, casas de banho ao fundo corredor, ... e caro !!!... muito frequentado por jovens em estadias curtas.
O Silva a fazer a cama !!!! ... se a esposa visse pensava que era milagre de Fátima !!!!
Depois de ter estacionado em cima do passeio (não vi local perto onde o pudesse fazer em segurança) confirmei a disponibilidade de quarto para os dois e regressei às motos dizendo ao Silva que poderíamos estacionar no “parque” do hotel que nada mais era do que uma estreita viela, onde cabiam as duas motos, com cerca de 10 mts de comprimento e que dava para uma rua lateral … bem,.. Agora as coisas vistas com calma, talvez coubesse mais outra moto …
Como tínhamos estacionado numa zona de passeio mais larga a cerca de 20 ou 30 mts do “park – viela”, quis colocara moto a trabalhar mas … nada, nem sinal o motor de arranque deu. Mau !!!! … “bem, se calhar esqueci as luzes acesas enquanto fui fazer o check-in e a bateria foi-se” foi o que, cristãmente, pensei.
Duche tomado, toca a sair para dar uma curva mas não sem antes passar pela moto para tentar ouvir o barulho do motor e ficar tranquilo … nada de novo. Comecei a ficar preocupado. Pedi a uma jovem japonesa que estava no hotel que consultasse no seu I-Pod, I-Pad ou que raio era aquela geringonça, o endereço do concessionário BMW-Motorrad de Lucerna … Motocenter na HochdorfStrasse, 9 …
“Bem, se esta “m€rd@” não pegar amanhã, vou com o Silva lá, ou telefono, ou ligo para a assistência em viagem … espero que seja só mesmo a bateria.” … mas já não andei descansado todo o serão.
Na praça, junto ao lago, com a catedral "dos-não-sei-quantos" ao fundo... esqueci-me de apontar que querem?
Na praça, junto ao lago, com a catedral "dos-não-sei-quantos" ao fundo... esqueci-me de apontar que querem?
Entretanto, começámos a visitar, a pé, a parte histórica da cidade, tendo passado por um snack-bar que nos chamou a atenção pela ementa e ficou combinado que seria mesmo ali que jantaríamos … e porque não beber já um “caneco”? alvitrou o Silva … “é qué mesmo já a seguir” respondi eu e entrámos.
Enquanto no meu mal-amanhado alemão tentava explicar ao Silva do que eram compostas as ementas, fomos surpreendido com um “se quiser, pode pedir em português” !!!!
Ena pá … já estávamos a jogar em casa … eheheh.
A simpática Lurdes deu-nos umas dicas sobre o que comer e visitar e ficou prometida a visita para a hora de jantar.
Passeámos pelas margens do lago Lago de Lucerna conhecido também pelo Lago dos Quatro Cantões precisamente por estar rodeado pelas diferentes regiões suíças.
O Silva aqui na pose junto a um dos barcos turísticos
Com quase 40 kms de comprimento, está situado a mais de 400 mts acima do nível do mar e grande parte das suas margens são montanhas que se elevam até mais de 1500 mts acima da sua superfície.
Vários barcos, de carreira e turísticos, navegam nas àguas do lago que, nos seus pontos mais profundos atinge mais de 200 mts.
Um dos modernos trolley-bus eléctrico que servem os transportes públicos ... por cá, creio que só a minha Coimbra ainda mantém a circular alguns ... uma pena realmente.
Passeámos pelas margens do lago, visitámos a famosa Ponte da Capela, construída em madeira em 1333 e que corta, na diagonal, o Rio Reuss, a cerca de 100 mts da parte final do lago e por onde este desagua.
Passeámos pelas margens do lago, visitámos a famosa Ponte da Capela, construída em madeira em 1333 e que corta, na diagonal, o Rio Reuss, a cerca de 100 mts da parte final do lago e por onde este desagua.
Aspecto duma das suas abóbadas
Fazia parte do complexo de fortificações da cidade medieval e, nela, os soldados podiam responder aos ataques que viessem pelo lago.
Infelizmente, em 1993, um cigarro displicentemente atirado fora pegou fogo num motor a gasolina dum bote e … cerca de dois terços da original ponte foi destruída o que nunca tinha antes acontecido em mais de 700 anos.
Uma chamada de atenção para os incautos viajantes que visitam Lucerna e outras cidadades Suíças, sobre este inimigo mortal, silencioso e que ataca falsa e inesperadamente: as bicicletas.
São aos magotes e deslocam-se a velocidades supersónicas atacando em todos os lados e quando menos se espera … cuidado, muito cuidado !!!!! ... é mais provável ser-se atropelado por uma bicicleta do que por qualquer outro veículo.
Bem, depois dumas voltas a pé pela bonita parte velha da cidade, regressámos ao snack da Lurdes para jantar tendo depois novamente regressado para mais uma volta a pé pelas baixa e margens do lago onde apreciámos os lindíssimos e chiquérrimos hotéis que o circundam.
No parque, estava a actuar este suíço com um instrumento estranhíssimo de que já não me recordo o nome mas parecia aquele utensílio que nós por cá utilizamos para fazer as cataplanas. Tem um orifício no seu centro por onde o “tocador” o segura e depois, à sua volta, tem diferentes deformações côncavas que fazem os diferentes tons … aquela gaita parecia um disco voador esquisito mas os seus sons aliados à inquestionável habilidade do “músico” …
Pode parecer-vos esquisito mas, talvez por ter tido uma formação musical desde muito jovem (quem me conhece sabe que fui filarmónico na banda da minha aldeia desde muito novo) apreciei aqueles momentos com muito interesse.
Bem … mais uma passeata a pé pelo parque e, ao ver a Bahnhof iluminada disse ao Silva que seria, talvez, uma boa visita.
Não esperávamos, àquela hora, cerca das 22:00 e a uma segunda-feira, ver a estação muito movimentada como, de facto, não estava. No entanto, havia ainda bastante gente, turistas como nós de máquina fotográfica em riste e pessoas com ar mais apressado e profissional, distantes das nossas despreocupações.
Ao aproximar-nos dum quadro electrónico onde estavam várias informações que, por curiosidade quis consultar, ouvi, bem perto de mim, e em bom português:
- Cabrão, filho da puta … é mesmo cabrãozão !!! Era só mais um minuto !!!
Surpreendido pelo vernáculo português numa estação de caminhos-de-ferro suíços, aproximei-me da senhora, elegantemente vestida e acompanhada duma jovem de cerca de 15 anos (que soube depois ser sua filha) não pude deixar de perguntar:
- Boa noite, posso ajudá-la minha senhora?
- O Sr. Já viu, aquele cabrão que não esperou um minuto sequer … a minha filha já se aproximava com o bilhete e o filho da puta … queria apanhar o comboio para Basileia … mas, espere, … o senhor é português???
- Sou sim minha senhora.
- AHAHAHAAH … E como pretendia ajudar-me?
- Bem. Nem eu próprio sei mas, se a senhora me contar o que a aflige, talvez a ajude a encontrar uma solução… nem que seja levá-la de mota até lá … ahahahaahahah !!!!!!
Nem imaginam os risos que este fortuito e hilariante encontro nos proporcionou. Tão depressa quanto aquela personagem apareceu, tão depressa desapareceu porque, entretanto, passaram duas pessoas suas conhecidas e … “see you later aligator”.
Decidimos voltar ao hotel, regresso no qual não escondia a minha preocupação por causa do raio da moto.
Ó Silva, -disse eu- se calhar vamos tentar colocar a moto a trabalhar de empurrão … que dizes? ... aproveita-se agora a ausência de trânsito, o facto da rua ser inclinada …
Quando chegámos á viela, a saída das motos, para a rua lateral onde queríamos fazer a experiência, estava barrada por uma viatura lá estacionada … que m€rd@ !!!!
Entretanto, disse ao Silva:
- Queres ver pá ?... ligo a chave, faz o check habitual, … tudo bem … carrego no botão de pôr a trabalhar e … nem sinal de vida … deve ser mesmo a bateria.
- Ora experimenta lá outra vez João.
….
- Olha lá João, não deve ser da bateria porque as luzes não dão sequer sinal de enfraquecer quando ligas o botão de arranque … deve ser outra coisa qualquer.
- Só me faltava mais isso pá … ainda deve ser uma peça electrónica esquisita que vai demorar uma semana a cá chegar e … foram-se as férias !!!! ….. dassseee…
- Vê lá bem se não é práí um botão qualquer que não esteja bem …
- Cum catano ó Silva !!!!! …. É o interruptor de segurança do arranque que está na posição desligado … Ganda Nabo... Burro !!!
Já fui dormir muito mais descansado … no dia seguinte seria a travessia dos Alpes para Itália.
Boa noite ... até amanhã
As fotos no Picasa Aqui
O vídeo das fotos Aqui
Ando a seguir as vossas peripécias, e tenho-me rido muitas vezes, quer pela maneira como contas as coisas, quer pela personagem do Silva. Acho que fazeis a dupla de sucesso, mais improvável, eh eh eh eh. Adorei especialmente o relato do dia em que passaram junto ás praias do dia D.Sobre a Suíça, só tenho boas recordações, fruto de uma viagem que fiz, sozinho, com a minha FJR. Se quiseram dar uma olhada, vejam o meu blog, um pouco desactualizado http://fotomotard.blogspot.pt/ Continuação de boa viagem e continua a relatar todas as peripécias. Um abraço
ResponderEliminarMuito obg pelo seu comentário caro Henrique.
EliminarFico contente por saber que provo um sorriso em alguém.
Retribuo o abraço.
João Rui Pimentel
Bom dia!!!
ResponderEliminarGosto da expressão “see you later aligator”...
Agora percebo a troca de personagens... Sr. Pimentel, tb já me aconteceu estar a tentar colocar a mota a trabalhar e ir discutir com o mecânico... para depois verificar que tinha esse botão desligado... eheheheh
Hoje é sexta-feira, o melhor dia da semana...
Votos de um excelente fim-de-semana!
Pois ... acontece aos melhores... ahahahaha
EliminarRetribuo os votos de bom fds
Boa tarde,
ResponderEliminarAgora vejo que já acabou a viagem! Pena não ter havido um contato antes desta viagem, pois eu estou na Suiça e tinham vindo almoçar comigo, estou a pouco mais de 50 km do tunel grand st bernard que liga a Italia e dava uma viagem lindissima até ao lago Di Como.
Agora paciência; fica para a próxima!
Bom fim de semana
Grande abraço
Pois .. e agora?.. voltamos para aí?
EliminarBoa noite,
EliminarVim a este blog porque cusquei o M Y D e vi a sua viagem e achei interessante seguilo por aqui. Tambem tenho e gosto de motos. Veja bem sao 4 da matina e estou farto de me rir sozinho mas baixo nao vá eu acordar a mulher. hahahaha
Boa noite e continue com a narrativa MAS dessa forma que o caractriza.
Obrigado
Obg uma vez mais pela gentileza do comentário.
EliminarSão eles / vocês que fazem com que não ache nenhum frete ou obrigação fazer estes textos.
Cumpts
Grande João,
ResponderEliminarContinuo a seguir atentamente o relato da vossa viagem e acho fascinante a forma como descreves cada momento. Essa do botão da ignição desligado, aconteceu-me o ano passado em Marrocos e percebo bem a tua aflição!..
Um forte abraço.
Obg João.
Eliminartenho a certeza que já aconteceu a muito boa gente mas têm vergonha de o dizer... ahahahahahah
Retribuo o abraço