sexta-feira, 8 de maio de 2015

PELO ALÉM TEJO (III)


3º DIA

MOURA A CERNACHE POR ÉVORA E VIANA DO ALENTEJO





O 3º e último dia de passeio estava, obviamente, reservado para o regresso mas no "folheto" da agência de viagens constavam ainda algumas coisas para fazer.

Cumprindo a habitual doutrina de não regressar pelas mesmas estradas, decidimos regressar pela Vidigueira, Alvito, Viana do Alentejo, ... (N258 e N257).

Estradas sem fim naquele domingo de manhã... rectas infindáveis de asfalto húmido dos chuviscos nocturnos ... paisagens verdes e a brilhar das gotículas nas suas folhas e ramos.





"cruise control" nos ... huumm... errr ... hãã ... 90 kms/h (nunca se sabe quem é que vai ler "isto" ) e era desfrutar do ar fresco matinal, viseira  levantada para melhor desfrutar de todo o conjunto de aromas que nos eram proporcionados.











em muitos locais eram visíveis ainda os "efeitos Alqueva".

É curioso como, fazendo um "muro" de betão com algumas dezenas de metros de altura, numa zona plana como é o Alentejo, se obtém uma albufeira de muitos milhares de kms/2 !!!!

Oopsss.... travão a fundo porque passei uma placa castanha que tinha escrito "Ruínas Romanas ..." nem tive tempo de ler o resto ...


Ruínas Romanas de São Cucufate percebi depois quando lá fomos e apenas lá estava este guarda de domingo que, de forma pouco amistosa nos disse que estavam fechados  .


Mais uma ... e não fomos só nós... estava lá uma autocaravana de matrícula estrangeira com os seus ocupantes igualmente tristes por ...




Bem... fomos de novo para a estrada em direcção à Vidigueira ... o que faz lembrar a "boa pinga" ... 
 ... e as nuvens... sempre presentes e a avisar que o melhor seria mesmo ter o fato-de-chuva à mão ..




E quase a chegar ao Alvito ... lugar a partir do qual era a fantástica N257 que iríamos percorrer ... estrada assim... deixo as palavras e os pensamentos para os leitores 

E no Alvito, onde não estava previsto que parássemos, abrandámos a marcha junto a um jardim por ter visto uma bonita capela ... foi uma surpresa fantástica.





A Ermida de São Sebastião, um edifício de arquitectura curiosa, gótico-alentejana, com fortes elementos árabes cujo interior, totalmente abobadado e revestido a frescos lindíssimos faz ficar de boca aberta de espanto, os seus visitantes.

Devotada ao Mártir São Sebastião, foi construída no lado exterior da povoação com a intenção de impedir a peste negra de contaminar os residentes. Esta peste, também conhecida por Bubónica, dizimou cerca de metade da população europeia no sec XIV, sendo opinião de alguns historiadores que terá mesmo provocado o retrocesso para a  Idade das Trevas.





os seus frescos são duma beleza muito grande e, creio, dos melhores exemplos desta arte de pintura tão antiga.


E a próxima paragem seria dali a cerca de 12 kms: Viana do Alentejo.

Nada sabia sobre esta vila alentejana e a intenção era apenas parar para um café e uma "natinha"   que isto de andar de mota faz fome  mas, uma vez mais, fomos surpreendidos pelas belezas deste Portugal desconhecido.

Resolvi seguir uma "placa castanha" de tinha inscrito "castelo" e ...




Fui aqui dar ...

Um lindíssimo castelo, exemplarmente conservado e que poderia servir de exemplo a muitos dos monumentos que por aqui existem.






Foi também aqui que me lembrei da tradicional peregrinação a cavalo de Viana do Alentejo, todos os anos tão noticiada.




O impressionante pórtico Manuelino da Igreja de Nª Sª D'Aires, no interior do castelo.






Também ela de estilo gótico-manuelino, tinha ainda alguns revestimentos dos tradicionais azulejos quinhentistas da época bem como alguns frescos que sobreviveram às reconstruções de que foi sendo alvo.

E estava feita a visita a Viana do Alentejo que me fez reflectir sobre as casualidades e curiosidades da vida: se não pararmos, se não descermos, se não tomarmos caminhos diferentes dos habituais, ... não acontece nada de especial nem ficamos a conhecer nada de novo. 

E mais cerca de 30 kms nos separavam da próxima paragem: Évora

Cidade Património Mundial, fervilhava de turistas em busca dos seus locais mais conhecidos: a Capela dos Ossos, o Templo da deusa Diana, a Sé Catedral, ...





espaço tão interessante quanto lúgubre e de arrepiar ...



A Capela dos Ossos, foi construída no Sec XVII segundo a iniciativa de 3 monges franciscanos e feita com as ossadas humanas dos cemitérios em redor.


Tratou-se duma manifestação muito própria da época (estava-se na chamada "contra-reforma" do Concílio de Trento) e que pretendia chamar a atenção para a transitoriedade da vida na Terra, da sua efemeridade, da sua apenas relativa importância ...




A próxima visita seria a Sé Catedral, não fora o preço pedido para a visita e o tempo disponível para a fazer ... ficou "em carteira" um regresso a Évora para aprofundar o conhecimento dos seus monumentos.




E visita que é visita a Évora, não o é sem uma foto do Templo de Diana ... dentre das disponíveis tive dificuldade em escolher uma, pois a "fotógrafa oficial d'OS LESMAS" que, por acaso é minha fotógrafa privativa também,  fez várias, todas muito bonitas.



Afinal escolhi duas ... 

E de vez em quando chuviscava ... as notícias que tinha de casa é que "chove muito ... vem com cuidado".

O dia ia avançando e, seriam cerca das 15:00 quando partimos de Évora. O nosso destino era Arraiolos, Galveias, Ponte de Sor, ... pela N370, segundo a "tal regra" de não passar por onde já passámos.

E andar de mota é mesmo porreiro... nem fazem ideia do trânsito que havia em Évora àquela hora... excursões, bandos de miúdos com t-shirt's da mesma cor indiciando que "alguma coisa" se passava e um encontro estaria a ter lugar.

As filas de automóveis eram infindáveis mas, com a minha "traineira", como alguns invejosos lhe chamam, fui passando entre filas e, num instante, saí dali.

E também num instantinho, que é como quem diz vinte e poucos kms depois, chegámos a Arraiolos ...



onde ainda dei 2 ou 3 voltas a uma rotunda qual pombo-correio em busca de orientação ... ainda um dia destes hei-de ter um GPS que fará a inveja de todos 








Apesar de achar o castelo de Arraiolos muito bonito, já tínhamos "dose de castelos" que chegasse para um só fim de semana ... e o raio do tempo, à medida que subíamos para Norte, mostrava-se mais ameaçador.




mas a estrada continuava lindíssima e com cores como as que a foto documenta ...

E a "estirada" seguinte de quase 60 kms levar-nos-ia atá Galveias ... nunca tinha passado por esta estrada e fiquei fã ... a N370 é para fazer mais vezes 


Numas bombas da gasolina abandonadas do "coronel", resguardámo-nos dos pingos que começavam, teimosamente, a cair, e comemos umas sandes que, à boa maneira portuguesa, trouxemos na mochila do pequeno-almoço do hotel .

E estávamos já com pressa porque a chuva, apesar de fraca, já não dava intervalos ... e ainda nos faltavam mais de 150 kms até casa.

Daqui em diante, a história é só lérias ... a chuva não aconselhava a que a máquina fotográfica fosse exposta e, Ponte de Sor, Abrantes, Sardoal, Vila de Rei onde fomos brindados com uma monumental chuvada que fez o favor de lavar todo o pó alentejano que contava trazer como recordação ...

IC8 até casa foi sempre a "dar-lhe" mas com as necessárias cautelas pois, por uma ou duas vezes, em curvas mais acentuadas, senti a "traseira da traineira" a "dar de si" com tanta água na estrada ...


Balanço final:
938,5 kms com calor, muito calor mesmo, e umas chuvadas no regresso para retemperar as energias e lavar o pó como convinha.

3 dias em que fiz do que mais gosto: andar de mota e conhecer novas estradas e locais deste nosso (ainda) lindo país e que fiquei a conhecer melhor.






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