sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A MINHA 1ª MOTO A SÉRIO

Pois é ... adquirida em 1980 em troca duns serviços que não havia maneira de serem pagos, vi-me com "esta coisa" nas mãos, sem carta e, pior que isso, sem dinheiro para manter os dois carburadores Bing 25 que, pela força da gravidade e sucção dos cilindros, faziam desaparecer como que por milagre,  toda a gasolina que se enfiava no depósito ...

Até ali só tinha andado numas "motoretas" Sachs, Casal, Zundapp, Kreidler, Fuchs, ... de 50 cm3 de cilindrada... este "monstro" era uma R100RT com "não-sei-quantos" cavalos, 1000 cm3 e bem pesada.

Foi a minha primeira moto a sério e que me deu um enorme gozo possuir. Quase sempre "andava em obras" ... ou eram os vedantes dos carburadores que se estragavam e fazia um novo em plena viagem (trazia comigo uma placa de corticite e um pequeno martelo-de-bola"), uma espia que se partia ou o serra-cabos se estragava (numa das enormes malas Krauser trazia espias, arames, ferramenta, ...), a borracha que segurava a bateria se quebrava, ... mas só me deixou a pé uma vez.

Quando passei a ser o seu orgulhoso e desafortunado proprietário, a "menina" tinha já quase 120.000 kms ...
Isso não era problema algum não fosse o gastar óleo em quantidades que rivalizavam com as da gasolina. 

Na foto não dá para ver mas, na parte interior da carenagem, viajava uma garrafa de 1,5 lt com óleo ... sempre que metia gasolina, "atestava" também o óleo ... era a BMW de toda a zona centro e arredores que mais fumo fazia pelos escapes mas, que remédio, tinha que se aguentar pois o BATISTA RUSSO SA (representante da BMW em Coimbra à época), cobrava uma fortuna pela sua reparação.

O pior era de quem viajava atrás de mim ... mesmo de verão aconselhava-se o uso de fato-de-chuva por causa do óleo que saía pelos escapes ... eheheheh.

Para além deste pequeno e de todo desinteressante pormenor, cumpriu ela sempre com galhardia a sua missão até que, numa ida a Xanxenxo, recusou-se a entregar-me em casa e a avariar na AE, perto de Antuã. 

Eu já tinha desconfiado ... em Espanha, os manómetros andavam malucos, o motor "batia", fez questão de se "ir abaixo" várias vezes, a direcção oscilava perigosamente, as luzes apagavam-se de repente a meio dos percursos, o poisa pé esquerdo partiu-se, o fecho da mala Krauser do lado direito embicou  e  não mais quis abrir, os piscas deixaram de dar , a buzina ligava-se sózinha... tudo isto era o prenúncio de que alguma coisa estava para acontecer ... e aconteceu !!!

Na AE o fumo era tanto que todos me ultrapassavam de nariz tapado, e ela a perder potência ... cada vez se engasgava mais e os kms que ainda faltavam para chegar a casa ... e anoitecia rapidamente.

Resolvi parar, coisa de que ainda hoje me arrependo e questiono-me se tivesse prosseguido, talvez ela tivesse conseguido chegar ao destino. Mas não foi o que fiz, parei para ela arrefecer, falar-lhe um pouco ao sentimento e talvez convencê-la que seria o melhor para ambos ir para casa ... argumentos que, infelizmente, não colheram a melhor aceitação e ali ficou, encostada à berma, enquanto eu apanhava boleia para a área de serviço onde ligaria para a assistência em viagem ... sim, porque naquela época nada de telemóveis ainda !!!!

Coitada dela .. tinha na altura já mais de 190.000 kms e acabou trocada por uma Kawazaki EN 500 que, rapidamente, a fez esquecer ... paz à sua alma pensei eu.

Surpresa das surpresas, reencontrei-a em 2003, na Figueira da Foz, num encontro do BMW Motoclube e tinha sido maravilhosamente restaurada por um conhecido especialista da zona de Aveiro.
Já não era vermelho Ferrari mas tinha agora as cores da PSP ... azul com o depósito "debruado" a dourado/cinza. ... linda de morrer.

Já chega de "estórias" ... eize-a !!!!





Linda não é ????????


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