quarta-feira, 9 de abril de 2014

ESPECTÁCULO !!!! ... JAVALI, JÁ FOSTE !!!!

- Estou ??? ... João ???... sou eu !!!!
- Olá Tónio, tás bom pá?
- Olha ... xgrftih javali ... mq2@4$... terça-feira ... ^ªç?/<x .. javali ... João Machado ..-vx*p9)!w ... javali ...
- Quê ???
xgrftih javali ... mq2@4$... terça-feira ... ^ªç?/<x .. javali ... João Machado ..-vx*p9)!w ... javali ...
- Ah ... tá bem ... terça-feira então... lá estarei pá, abraço.

Esta foi a conversa telefónica tida há cerca duma semana com o meu amigalhaço e colega de passeios mototurísticos, António Rodrigues e que, resumindo, me convidava para "deitar abaixo" um javali no forno em sua casa.

Quem o conhece sabe que, a maior parte das vezes, não se percebe nada do que diz ... "tiram-se umas coisas pelas outras" ... eheheheh

E assim foi, ontem juntámo-nos na suas instalações de "comes e bebes", na cave de sua casa, devidamente equipada com cozinha, forno, fogões e tachos de vários tamanhos, facas, faquinhas e faconas, tesouras grandes e pequenas ...

Fui o primeiro a  chegar apesar de ter avisado que seria o último por causa duns afazeres olivícolas em Arganil ...

E quando cheguei a mesa já estava posta e o anfitrião preparado para me servir um vinho branco fresco que estava de "estalo".






Eize-o ... o Toino Rodrigues.



Fui dar uma espreitadela ao forno  e lá estava o pobre do bicho que não tem culpa nenhuma desta malta gostar de os saborear.

Este javali foi abatido pelo Rodrigues na batida do Zambujal ... o João Machado, que é lá o presidente, moveu ainda algumas influências para que a ele lhe calhasse uma "porta" melhor do que a nº 13 que lhe calhou em sorteio ... mas o Rodrigues insistiu em ficar naquela e foi o único que abateu um bicho nesse dia... há tipos com sorte !!!






Entretanto, chega o João Machado com o António Vaz, também ele um excelente cozinheiro e com já quem já ando a  trocar receitas ... ainda havemos de fazer um clube de tuperwares ...





Acabado o branco, chegou a vez do tinto ...



Entretanto, tinha-se já juntado ao grupo o Dr. Rui Rocha, presidente do Município de Ansião e um interessado apreciador de açorda de cação com bastante pão ... há gente assim, com gostos excêntricos, que havemos de fazer. Eu, por exemplo, gosto de açorda de cação em que, pelo menos de vez em quando, tenha um bocadinho do dito.




Já só faltava o Miguel, autarca de Santiago da Guarda que ainda estava a acabar uma reunião... como rapaziada educada que somos, ninguém arredou pé enquanto ele não chegou e pôde, enfim, começar a comer em grande velocidade para nos tentar alcançar.


O aspecto do javali no forno, bem menos irrequieto do que quando o Rodrigues o matou.


E fomos comendo e esperando pelo Miguel ... como ele estava atrasado, resolvemos ir repetindo até ver se ele chegava ...



Ah... já chegou mas "agarrado" ao telemóvel !!!

Entretanto, a Gracinda, desgraçada e infeliz esposa do anfitrião, desceu à cave para inquirir se estava tudo bem ... "Ó António ... então não serviste o arroz aos senhores?" ...






"Eh pá, nunca mais me lembrei do raio do arroz ..."

"Agora já não é preciso, fica para o almoço de amanhã com o javali sobrante e para que não andem a comer arroz e javali o resto da semana, amanhã voltamos cá para almoçar" - sentenciou o João Machado com um ar demasiado solene para que fosse questionado por quem quer que fosse.

"Só se o Tónio nos servir como fazia nos jantares de gala do Palácio da Ajuda" ... adiantei eu.



E era assim que ele se vestia ... com umas ceroulas e um casaco de maricas, servia jantares a reis e rainhas, políticos e outros espécimes ... tudo isto enquanto os contrabandistas subiam e desciam o Tejo com tabaco e maconha enquanto ele e os colegas da então Guarda Fiscal faziam de garçons ...

Já todos estávamos empanturrados de pão da suposta sopa de cação (ainda hoje não sei o que é ...), de javali no forno com batatas e sem arroz, de tijelada  ... e ainda nos quiseram impingir um "alguidar" de morangos ...

"Nem pensar" - disse o António Vaz - "morangos à noite não ... dão ideias a quem os come e pode ser perigoso. Ficam para amanhã ao almoço também"

Sábio conselho concordámos todos.






E eis que chega a hora da "Queimada galega" segundo anunciou o Tónio ...
Devia ser uma coisa boa pela expressão dos que já conheciam a mistura química explosiva pelo que me atrevi a perguntar o que era ...
Riram-se ... fiquei atento.



Mas que diabo é isto ?... identifiquei grãos de café, paus de canela, cascas de limão, ... e o líquido não fazia a mínima ideia do que era ...



Até que pegou fogo ... seria gasolina ???


Bem ... o resultado de todo aquele número de magia e ilusionismo de transformação química, liquidificou-se neste recipiente de vidro, que o Rui Rocha gentilmente distribui pelos presentes ...

Era a famosa "Queimada galega" ...




Uma bebida certamente bem energética e capaz de animar as mentes mais deprimidas, ainda desconhecida da voraz e gananciosa indústria farmacêutica, que pudémos desfrutar ... apenas um pouco para provar, que a destilação faz desaparecer grande parte ...


Face aos inúmeros pedidos para que fosse feita mais uma dose de "Queimada", pois a primeira serviu apenas para aguçar o apetite, o António Vaz brindou-nos com uns faduchos, muito bem acompanhados por um coro de vozes bem animadas pelos vapores da bebida que ainda se manifestavam no ar ...
É assim que deve ser o fado de Coimbra,... um a tocar, esforçando-se por acompanhar o ritmo das vozes dos acompanhantes que, por sua vez, se esforçam por emitir ruídos mais desafinados e descompassados que os outros... estava armada a festa !!!




E desta vez a Gracinda teve que ajudar o marido pois o alguidar era maior, satisfazendo o pedido dos presentes ...

E agora sim ... a "Queimada Galega" foi servida com requinte e solenidade ...





O anfitrião devidamente fardado e em plena preparação da ... aquela coisa... a bebida ...



Dizem que quem cozinha o faz por gosto e alegria... parece-me ser o caso ...




mas desta vez arriscou-se demasiado ... ninguém se lembrou de informar a Protecção Civil (embora o seu responsável estivesse presente) nem os bombeiros... e a coisa esteve complicada ...





Não fora eu ter um diploma de "Extinguidor Semi-Profissional de Fogos em Ambiente Doméstico", oportunamente obtido quando era empregado bancário, e o caso podia complicar-se ...
Fui à cozinha buscar um spray de anti-gorduras e fiquei de plantão às chamas ...






E tudo se resolveu em bem, tendo sido muito aplaudido pelos presentes por acto de tão grande bravura e destemor.


Talvez venha a ser mesmo medalhado no próximo dia do Município de Ansião, por relevantes serviços prestados na protecção do meio e na preservação das raízes culturais,  a "Queimada Galega" pode ser  originária daquelas serras, quem sabe?)



E já estava preparada mais uma dose e nós ainda mais preparados para a beber ...




e enquanto o António Vaz ia cantando para ver se nos distraía da "Queimada" ... não era ele o condutor e estava a começar a ficar apreensivo ...



e brindava-se a tudo e mais alguma coisa ...



O Rodrigues ainda nos contou algumas das suas façanhas de cozinheiro, responsável de catering em eventos desportivos, criado de mesa, etc...

Tem vários diplomas do Paris-Dakar, do Open de Portugal Ténis, ...


esta uma foto devidamente decorado com uma "peça" de que não sei o nome mas que usou em Marrocos por ocasião do Dakar ... um bocado apaneleirado para o meu gosto.


Tivémos ainda oportunidade de abordar o seu acidente de há coisa de um ano, em que perdeu a parte superior do seu polegar ...
Parece coisa pouca mas não !!! ... apesar de ser um fã das BMW, só pode conduzir Hondas e outras motoretas por causa dos botões dos punhos da BMW ... assim que fizesse pisca, não o poderia mais desligar em toda a viagem.



Como todos os presentes eram especialistas e qualquer coisa, logo ali se levantou a possibilidade de, com uma pequena cirurgia a efectuar pelo meu amigo e conhecido clínico Dr. salvador, de Condeixa, para implantar um pequeno gancho ...



Chegámos mesmo a fazer algumas experiências para ver como seria o resultado final ...

Uma curiosidade: os vapores etílicos da "Queimada Galega" causaram em alguns dos presentes sentimentos taurinos ...
Coisa estranha de facto pois a Galiza não é conhecida por ser região de aficcionados ... se fosse, por exemplo, "Queimada Andaluz" ... talvez, agora galega ...


O Rodrigues a explicar como se espetam os ferros curtos, gentilmente oferecidos pela Ana Baptista, conhecida cavaleira tauromáquica ... deve ter sido em mais algum dos jantares que ele e os colegas serviam.


E o convívio estava a acabar pois começava a ser perigoso circular por ali e eu, acauteladamente, mantive-me sentado e de costas prá parede ...

Hoje de manhã, vim ver o meu blogue e vi esta crónica que tinha escrito antes de me deitar ... não me lembraria de nada estou certo ... a idade faz esquecer cada vez mais coisas.


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