quarta-feira, 13 de março de 2013

VISITAR COIMBRA - O MOSTEIRO DE CELAS




Olá a todos:

Em mais uma excelente iniciativa do Departamento de Cultura do Município de Coimbra, fui conhecer o Mosteiro de Santa Maria de Celas do qual nada sabia... nem mesmo a localização pois, nuns semáforos, tive que perguntar a uma condutora onde era.

Cheguei um pouco atrasado pois um lamentável e cada vez mais frequente "curto-circuito mental" fez-me pensar que a visita era no Mosteiro de Santa Clara ... dia em que me esqueço de tomar as gotas é assim !!!!

E a explicação já tinha começado, mais uma vez a cargo da Dra Branca, excelente conhecedora do património de Coimbra.


A entrada do Mosteiro de Celas, destacando-se o belo portal quinhentista

Situado no antigo burgo de Celas, e conhecido popularmente apenas por  Mosteiro de Celas, é um monumento cuja documentação conhecida aponta para que tenha sido erigido no sec. XIII, mais concretamente em 1210, por patrocínio de D. Sancha, filha de D. Sancho I e da Ordem de Cister.
Tratou-se inicialmente dum pequeno claustro e um reduzido número de celas. O edifício foi-se alargando á medida que a comunidade das religiosas aumentou de número. Foi objecto de restauros e alterações nos sec XVI e XVIII.
Com a extinção das ordens religiosas em 1834 foi, no entanto, permitido às suas residentes manter-se no edifício, o que aconteceu até ao falecimento da última, já em finais do sec XIX.


Já no interior do Mosteiro, num pequeno átrio, pode observar-se a janela gradeada do parlatório, único meio de comunicação com o exterior face ao voto de clausura das freiras.



A "roda dos bolos"

Esta abertura, de reduzidas dimensões, com uma "prateleira giratória" em madeira, servia para a troca de géneros entre a comunidade religiosa e o exterior.
As freiras do Mosteiro de Celas, tal como as outras comunidades religiosas de mosteiros e conventos, era famosa pela doçaria e crê-se que, esta "roda dos bolos" serviria para trocar os ditos pelos géneros que recebiam dos crentes em agradecimento pelas graças recebidas.
Todos os mosteiros, que eu saiba, têm uma "roda" deste género, embora de maiores dimensões pois eram frequentes os casos de bébés deixados abandonados pelas mães, sem meios de subsistência, para que fossem cuidados pelas freiras.
A "roda" do Mosteiro de Celas, no entanto, é de reduzidas dimensões pois em Coimbra existia já uma instituição, para os lados de Montarroio, conhecida pela Casa da Roda, e que era onde deixavam os bébés abandonados.



O edifício onde funcionava o antigo Cartório do Mosteiro

Do Mosteiro de Celas, é conhecido o "Manjar Branco", na linguagem popular "Maminhas de Freira", com a particularidade de ser feito também com peito de galinha, crê-se que para dar uso às dádivas da população.


A entrada para a igreja, com inscrições fazendo referência a Leonor Vasconcelos, talvez a sua abadessa mais influente no sec XVI.
Não existe, infelizmente, muita documentação sobre este mosteiro tal como sobre o de Santa Clara. As rivalidades existentes entre as ordens das clarissas de Santa Clara e da de Cister deste de Celas, fizeram com que os documentos fossem sendo destruídos para que, talvez, os segredos de ambas não fossem descobertos ... e assim muito da sua história se perdeu ... Existe apenas no cartório um "index" da autoria dum tal Frei Bernardo que pouco acrescenta.


A igreja, cuja construção final data de 1529 e da autoria de dois importantes arquitectos da época, Gaspar Fernandes e João Português, é coberta por uma belíssima abóbada manuelina estrelada, encimada pelo escudo português segurado por duas águias.

Na igreja, há ao lado direito uma pequena capela da autoria da oficina de João de Ruão, o conhecido escultor coimbrão. Não é fácil atribuir a autoria de muitas obras pois, humanamente, seria impossível ser ele o autor de tantas, mas é possível identificar a sua origem nas suas oficinas.




Do sec XVIII e de estilo rocócó, o altar mor da igreja, de madeira dourada, é muito belo e profusamente iluminado pelas duas grande janelas que o  ladeiam.
As belíssimas colunas azuis que o envolvem, graças à poupança imposta pelo governo de Pombal, para fazer face ás despesas com a reconstrução  de Lisboa após o terramoto, imitam o mármore mas são de madeira pintada, não deixando, contudo, de ser uma obra de arte que exemplifica a escola da época.


Na sacristia, existe este belíssimo retábulo que se crê ter sido encomendado pela já referida abadessa Leonor Vasconcelos, a João de Ruão. na imagem não é possível realçar a rara beleza destes relevos em "pedra-de-ançã".



Quadro "Anunciação" representativo das beatas Sancha e Teresa, filhas de D. Sancho I, Rei de Portugal (1154-1211) que, juntamente com a "Ecce Homo" e "Coroação de Maria", enfeitam as paredes da igreja, creio que todos do sec. XVII.


O cadeiral


Nesta foto, pode ver-se uma cadeira com o famoso ponto "misericórdia". Este é uma aplicação em madeira que permitia aos religiosos descansarem nos prolongados momentos de oração em pé. Bastava encostarem-se um pouco  e aliviavam o sacrifício de estarem tanto tempo de pé.


Mais uma perspectiva do bonito cadeiral


Sala do Capítulo


Os jardins do claustro




Moi-même junto à entrada da "mina" e ao pequeno lago


O grupo nos jardins ouvindo a guia


Num dos cantos do claustro, encontra-se esta porta, há muito encerrada por pedras que dava para o Dormitório das freiras que serviu, até há bem  pouco tempo, de instalações para o Hospital Pediátrico de Coimbra.
O claustro era o elemento arquitectónico central do mosteiro. De lá acedia-se à igreja, à Sala do Capítulo, ... 


A entrada da "mina" de água

Especula-se que este túnel poderá ir dar ali, acolá, ... especulações próprias e geralmente associadas a este tipo de construções pelo encanto e fantasia a que a nossa imaginação nos leva, ao imaginar que estas passagens lavavam o pecado à clausura das religiosas.



No exterior do Mosteiro mas dentro daquilo que terá sido o seu perímetro, uma foto da pequena capela exterior onde ainda é visível a torre sineira em ruínas.



A foto do grupo que teve a felicidade de aderir a esta visita guiada que a todos nos enriqueceu.
Confesso que apenas tinha "ouvido falar" no Mosteiro de celas, não fazendo a mínima ideia da beleza e história que aquele espaço encerra.

Grato por mais este enriquecedor contributo que me foi proporcionado, pelo que sugiro a todos que estejam atentos à programação que vais sendo divulgada pois a nossa cidade tem encantos que merecem ser de todos conhecidos.


Todas as fotos AQUI


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2 comentários:

  1. Obrigada João, por esta excelente crónica e por mais uma vez me proporcionares uma bela viagem ao passado. Vivendo, durante tantos anos, tão perto do mosteiro apenas o conheço por fora. Dava-lhe apenas um olhar apressado quando ia à escola primária, onde andou a minha filha, ali junto ao mosteiro. O apressado dia a dia não deixava tempo para ver as maravilhas que me rodeavam...terei que remediar esta falha um dia.
    Beijinho.

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  2. Boa noite. Procuro saber quem poderá ter herdado a informação que constaria neste mosteiro. Isto porque procuro saber o possível de um antepassado meu que foi "deixado na roda" na segunda metade do sec. XIX. Nunca saberemos a sua ascendência mas talvez seja possível ter uma ideia aproximada do ano em que nasceu, ou com que idade saiu do mosteiro. Isto porque ele foi entregue para uma família da Serra da Lousã para ser criado da família. Ficou com o apelido deles mas por ter sido só um criado o apelido não teve continuidade. Tem alguma ideia de que instituição possa ter herdado alguma documentação que exista? Obrigado por qualquer informação! Miguel Lopes, mgk1624@gmail.com e parabéns por este excelente post.

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