Olá a todos:
Sou subscritor da newsletter do departamento de cultura da Câmara Municipal de Coimbra e recebo, todas as semanas, propostas interessantíssimas sobre "cultura" naquela cidade.
Desde exposições de fotografia, pintura, escultura, ... espectáculos de música, teatro, ... visitas à cidade ou a locais dela específicos, ... vou tomando conhecimento de todos estes eventos mas, infelizmente, nunca tinha podido participar.
O facto de estar agora desempregado (isto ainda me soa mal dito assim ...) faz com que queira ocupar o tempo duma forma o mais construtiva possível, mantendo o corpo e o espírito ocupados para não cair em vícios de que, mais tarde, se torne difícil sair.
Assim, anotei o dia 5 de Março para fazer uma visita guiada à Alta de Coimbra.
Podem vocês perguntar "mas o que tem a alta de Coimbra para ver ou visitar?" ... pois e´, também eu desci ou subi aquelas ruelas muitas vezes sem nunca me ter dado conta de que todos aqueles edifícios, vielas, esquinas e praças, têm uma história para contar.
O encontro estava marcado para as 15:00 junto à entrada do Museu Machado de Castro, a visitar um destes domingos de manhã porque até ás 14:00 é gratuito.
Já lá se encontrava a Dra. Branca Gonçalves, do dep Cultura do município tendo chegado poucos minutos depois os restantes elementos do grupo.
O Museu Machado de Castro recebeu importantes obras de conservação recentemente e é ponto de visita obrigatória para quem vem a Coimbra.
O edifício serviu desde o sec XII até 1910 como Paço Episcopal de Coimbra e o seu importante acervo é proveniente de conventos e igrejas, de colecções particulares e outras doações.
Tem algumas obras de referência de que destaco o Tríptico da Paixão de Cristo, pintura de 1514 do mestre Quentin Metsys, Antuérpia, e o Relicário do Sec XIV em prata e ouro, impressionante trabalho de ourivesaria.
A visitar de forma mais demorada e apenas com esse propósito tal a sua riqueza de conteúdo e história pois está implantado onde outrora foi o forum da cidade, palco central de todos os povos que por Coimbra passaram.
Para os mais interessados em datas e acontecimentos, lembro que Coimbra foi conquistada no ano de 1064 por Fernando Magno de leão aos muçulmanos, que a ocupavam desde 711 depois de, eles próprios terem expulso os "bárbaros" alanos, suevos, visigodos, ... que tinham, por sua vez, provocado a desocupação Romana.
Dos romanos ficou o criptopórtico hoje situado onde está instalado precisamente o Museu Machado de Castro.
Ao lado do Museu, fica a Igreja de São João de Almedina, alvo de obras que desfiguraram a sua traça original. por exemplo, as suas entradas trabalhadas vieram transferidas de outros conventos e igrejas da cidade.
Entradas da igreja de São João de Almedina
A visita prosseguiu para o Largo de São Salvador
Aí, pudemos apreciar a igreja que venera o santo com o mesmo nome e falar um pouco sobre a sua história.
A igreja encontra-se fechada e não é mesmo utilizada para celebrações do culto religioso. Ao que sei, apenas é utilizada para cerimónias como baptizados, casamentos, sendo o espaço alugado "para gente rica" como uma "salatina" residente nos disse.
Antes dela já lá existia uma outra pois, à data da reconquista, está documentalmente provada a sua existência mas nada mais se sabe.
Esta, trata-se dum monumento românico que se crê datar da segunda metade do sec XII tendo sido remodelada no sec XV ... a visitar se e quando for possível conforme promessa da guia.
Na única coluna original que a sua entrada apresenta, apresenta como motivo a "vieira" de São Tiago. Diz a lenda que foi São Tiago que, aparecendo no seu cavalo branco, terá dado a Fernando Magno de Leão as chaves da cidade e ajudando à sua conquista.
Como nota histórica de curiosidade, diz-se que foi na igreja de São Salvador que Isabel de Aragão, a tão querida Rainha Santa de Coimbra, desposou D. Dinis embora outros defendam que, efectivamente, casou em Trancoso.
Prosseguimos para a Rua do Loureiro.
Rua conhecida por ter várias republicas de estudantes.
A República de Baco existe desde 1934, sendo a segunda mais antiga a seguir à dos Cágados.
Prosseguimos até à Rua da Matemática, onde se situa a Real Republica Ras Te Parta, onde residiu Adriano Correia de Oliveira.
Patente também uma placa de homenagem a uma figura coimbrã, Maria Marrafa, distribuidora de "Sebentas".
Mais uma republica, desta vez a Real Republica dos Inkas
Na Rua dos Loureiros para onde prosseguimos, foi possível observar um dos raros casos de jardins interiores que ainda existem na Alta da Cidade.
E aqui, no numero 12 da Rua dos Loureiros, viveu e estudou Eça de Queiroz.
Prosseguimos a visita até á Casa da Escrita.
Trata-se dum edifício, propriedade do município que é utilizado para realizações culturais e serve ainda de alojamento para escritores e outros autores que, visitando Coimbra, ali encontram o necessário recato para produzirem as suas obras.
Ao que julgo saber, o pagamento traduz-se na doação de obras de sua autoria.
Continuámos a descer, desta vez na Rua do Colégio Novo
Foi-nos explicado pela guia que este símbolo, que se encontra em muitas das calçadas de Coimbra, quer dizer que nos encontramos onde outrora era uma muralha defensiva.
E chegámos a um dos símbolos mais cantados de Coimbra: a Torre D'Anto
Era originalmente uma torre defensiva, fazendo parte integrante das suas muralhas de defesa. Mais tarde, tornou-se cada de habitação particular nela tendo vivido António Nobre.
Diz-se que uma sua namorada, inglesa morando no Norte, tendo dificuldade em dizer "António", terá abreviado o nome dando origem a "Anto"... curiosidades.
No largo onde se situa a Torre D'Anto, podem os encontrar a Igreja de santo Agostinho, hoje Museu da Misericórdia e com um importante acervo de arte sacra.
Foi, outrora, o influente Colégio Novo de Santo Agostinho.
Integra um importante conjunto de edifícios, sendo parte deles ocupado pela Faculdade de Psicologia.
Na mesma praça, outro edifício importante na história académica da cidade, o Colégio dos Órfãos.
Prosseguimos a "viagem cultural" descendo para a Torre da Contenda.
A lindíssima porta de entrada da Torre da Contenda, feita em pedra calcária de Coimbra, mais acastanhada que a conhecida pedra de Ançã.
Ainda o edifício da porta da Contenda.
A cidade medieval tinha 5 portas sendo a mais conhecida a da Torre de Almedina e a sua porta da Barbacã.
Junto à Torre da Contenda, esta bela casa que consta ser a residência da família lobo Xavier a quem felicito pelo bom gosto.
Casa onde viveu Aristides Sousa Mendes enquanto estudante de Direito em Coimbra, na Rua Fernandes Thomaz
Indicações para os turistas que passeiam pela alta da cidade, tão pitoresca e cheia de história
Estátua da Tricana de Coimbra na Rua de Quebra Costas
A sede da Junta de Freguesia de Almedina, outrora uma igreja bem junto ao palácio Sub Ripas, até há pouco tempo sede do extinto Governo Civil
A Torre de Belcouce era a torre e porta mais perto do rio
A Couraça de Lisboa, assim chamada por ir dar à estrada para Lisboa à época.
Vista da cidade obtida junto ao palácio Sub Ripas
Uma outra perspectiva
Casas típicas na Couraça de Lisboa
Já no largo da portagem, o edifício do Banco de Portugal. À noite, iluminado, um dos edifícios mais belos da cidade.
Este prédio que actualmente alberga no rés-do-chão o Montepio, foi a prisão da cidade
Estátua a Joaquim António de Aguiar, um importante político português do tempo da Monarquia Constitucional, tendo sido várias vezes Ministro do Reino e mesmo presidente do conselho de ministros.
A ele se deve a famosa lei de 1834 em que declarava extintas todas as ordens religiosas, mosteiros, conventos, hospícios, ... sendo os seus bens incorporados na Fazenda Nacional.
A Sé Velha, palco de inúmeras serenatas e um dos lugares míticos de Coimbra e da vida académica.
É a única catedral românica em portugal que sobreviveu quase intacta até aos nossos dias. Não há documentação que date com precisão a sua construção mas sabe-se que, em 1139, após a decisiva batalha de Ourique, em que Afonso Henriques derrota um considerável exército mouro e se proclama a si mesmo Rei de Portugal, este a manda edificar, provavelmente por a outra, no local existente, se encontrar muito degradada.
A Porta Especiosa, trabalho renascentista da oficina de João de Ruão, (1530) famoso escultor de Coimbra
Porta da Barbacã, que antecede o Arco de Almedina, principal porta de entrada da cidade
Sé Nova, antiga Igreja do Colégio dos Jesuítas, poderosa ordem religiosa que se instalou em Coimbra por volta de 1540 e tomando grande poder graças à protecção real que usufruíam.
Em 1759, quando os Jesuítas e as outras ordens religiosas caíram em desgraça por influência do Marquês de Pombal, a sede episcopal passou da velhinha Sé para esta igreja onde ainda hoje se mantém.
Bom ... uma excelente tarde passada na companhia de algumas pessoas que, tal como eu admiram o nosso património e procuram conhecê-lo melhor o que é, sem dúvida, uma forma de preservação.
Uma palavra de apreço para a Dra Branca Gonçalves, competente nas explicações e disponivel nos esclarecimentos... grato.
Coimbra é, de facto, muito bonita e tem um património riquíssimo que não está devidamente valorizado pela estranha indiferença a que é votado por todos os que o não conhecem.
Todas as fotos AQUI
Na minha modesta opinião, acho que a vida de desempregado devia ser toda assim.
ResponderEliminarQualquer dia ainda me ponho a jeito!
Abraços
olá Rui.
EliminarObrigado pelo comentário.
De facto, estar "desocupado" pode e deve ser aproveitado para ficarmos mais "ricos".
Abraço de amizade
A minha cidade é linda!!!! Folgo em vê-lo activo e bem disposto :-)
ResponderEliminarOlá "Loira".
EliminarObrigado pelo comentário.
Concordo inteiramente. Como digo, tendemos a desvalorizar o que nos é próximo e, neste caso, Coimbra tem muito encanto e história.
Cumprimentos "lá em casa".
Adorei a crónica João. Conheço bem todas essas ruas, calcorreei-as muitas vezes, mas de facto conheço muito mal a sua história. O facto de vivermos em determinado sítio faz-nos pensar que temos muito tempo para o conhecer, o que não é verdade. Tenho de voltar a Coimbra como turista e conhecer como deve ser todos os seus tesouros...
ResponderEliminarCoimbra é linda, Coimbra é minha...ups sorry nossa...
Posso voltar a comentar? Eh eh eh. Ao reler o livro de poemas "Coimbra nunca vista" de Manuel Alegre lembrei-me deste artigo e gostava de deixar aqui um dos poemas. Posso? ;) Aqui fica...
ResponderEliminarTorre de Anto
Uma torre constrói-se com palavras
com lembranças com vírgulas
com desastres
como um corpo despido devagar
como vida virada do avesso
poisada sobre o vento e sobre a chuva
uma torre constrói-se com mãos nuas
um torre com versos hemoptises
e com tudo o que fica depois
de tudo:
as cartas os retratos restos
pó.
Uma torre com duas letras
só.