A pequena lição de história que hoje aqui vos trago tem uma correspondência com a actual realidade portuguesa que me leva a perguntar se, efectivamente, esta não é mais do que repetições em que apenas os personagens são outros, ...
O episódio que aqui quero recordar teve lugar em França, no sec. XVII, na corte do désposta Luis XIV, também conhecido como o "Rei-Sol", tal a cultura egocêntrica de absurdo absolutismo com que governou.
Bem reveladora da sua personalidade, a ele se atribui a frase: "L' État c'est moi" (o estado sou Eu).
Luis XIV (1638-1715)
As duas personagens deste diálogo são COLBERT e MANZARINO.
COLBERT (1602-1661) foi ministro de estado e da economia de Luis XIV e eram-lhe reconhecidas competências e preocupações com os elevados gastos do estado e da sumptuosidade da corte.
Colbert
O Cardeal MANZARINO (1602-1661), bispo de origem italiana que, ao mudar-se para França e graças à sua astúcia e refinada habilidade para se movimentar na corte francesa, conquistou os favores da Rainha, tutora daquele que viria a ser Luiz XIV. O seu mentor e inspirador foi o também famoso Cardeal Richelieu (1585-1642), arquitecto do absolutismo real e da liderança francesa na Europa e que foi o todo-poderoso 1º ministro de Luis XIII.
Reveladora do carácter de tal personagem, a ele se atribui a frase "Observa as virtudes e os vícios de cada um ... poderás, em caso de necessidade, jogares uns contra os outros para comandares alguém" ... elucidativo.
Cardeal Manzarino
Pelos registos disponíveis, a "léria" terá sido assim:
Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço...
Mazarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem!
Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo ? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?
Mazarino: Criam-se outros.
Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
Mazarino: Sim, é impossível.
Colbert: E então os ricos?
Mazarino: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
Colbert: Então como havemos de fazer?
Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente!
Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres:
Os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres.
É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos.
É um reservatório inesgotável.
Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente!
Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres:
Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres:
Os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres.
É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos.
É um reservatório inesgotável.
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É ou não actual ????... poderíamos alterar os personagens para Soares e Hernâni Lopes, Cavaco e Miguel Beleza, Guterres e Guilherme d'Oliveira Martins, Sócrates e Teixeira dos Santos, Passos Coelho e Vitor Gaspar, ...
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