quinta-feira, 10 de maio de 2012

OS MEUS GATOS


Há já algum tempo que queríamos (eu e os meus filhos João e Joana) dar de prenda à minha esposa, um novo gato. Ela gosta de gatos e achámos que o Kiko, que embora tivesse já cerca de 4 anos e que já tinha vindo de Condeixa connosco, também se sentia muito só e sem companhia para brincar.

Tal como o Kiko, também fomos “comprar” o Tommy a uma loja de animais em segunda mão … que é o mesmo que dizer uma associação de protecção animal.
Nesta caso, a aquisição foi na Ajudanimal de Pombal nos primeiros dias de Dezembro de 2010 na “feira” que esta associação promove quinzenalmente aos sábados.
O Tommy era um pequeno e tímido siamês, de que recordo os enormes olhos azuis que sobressaíam da manta onde estava embrulhado.
Era  o único gato-bébe que estava para “venda” e, portanto, a única opção …
Que havíamos de fazer?... parecia saudável e com aspecto meigo capaz de saber agradecer com uns “ronr-ron”a quem os ia acolher … trouxémo-lo para casa sem saber nos que nos íamos meter.

O Kiko também foi foi “adquirido” na Ajudanimal mas de Coimbra, creio que em 2006 … estava num apartamento com outros 14 ou 15 gatos, uns pequenos e outros já adultos … e estava doente. Era um pequeno e escanzelado gato cinzento tigrado comum e a tinha fez com que a sua bonita pele cinzenta tivesse simplesmente desaparecido de partes significativas do seu corpo.
Levámo-lo para casa e, em pouco tempo, recuperou peso e o brilho do seu pelo. É hoje um “gatarrão” bem constituído, cioso do seu espaço e … podia ser mais meigo.
Se está sentado no sofá e um de nós se quer sentar também, logo desaparece e vai “pregar para outra freguesia”. Se o queremos ter ao colo para o acariciar, “espreme-se” todo para escorregar por nós abaixo e escapa-se …
 Creio que foi esta falta de meiguice que nos fez ir à procura de outro gato. Sempre tive gatos em casa de meus pais e alguns tornavam-se chatos mesmo … se nos sentávamos logo iam a correr sentar-se nas nossas pernas … roçavam-se em nós e tínhamos mesmo que os espantar …. Chatos !!!!
O Kiko não é assim. Anda por perto de casa, caça bicharada variada, desde ratos, pássaros, cobras, pequenas lagartixas, … mesmo um pequeno coelho bravo que teve a infeliz ideia de ir ”pastar” para o meu relvado, nunca mais foi visto… mas não é “dado” e meigo e raramente ronrona quando acariciado.

O Tommy é um oferecido !!!!
Põe-se a jeito para receber umas festinhas e logo salta para cima de nós quando nos vê alapados no sofá … muito brincalhão chega mesmo a ser chato para o Kiko e não raras as vezes este lhe dá umas valentes sopradelas sinal de arreliado e aborrecido com os “convites” para a brincadeira.
Os cortinados e as costas dos sofás são os “parques-de-lazer” preferidos … o que eu já ouvi por causa disso… raios partam os gatos … o Kiko não estragava nada e agora com a ajuda deste é o que se vê… nunca deu chatices nem que me lembre esteve doente. Tivémos sorte pois uma aquisição em 2ª mão é sempre um tiro no escuro e a única coisa de que me lembro que o veterinário disse é que tinha tártaro nos dentes. “Deve comprar uma escova especial e pasta para lhe lavar os dentes” disse o clínico com ar de que isso fosse uma coisa relativamente simples de concretizar …. Fosga-se !!! .. quando agarrei o Kiko e lhe abri a boca para lhe esfregar a pasta nos dentes e a seguir escovar …. Soprou parecia uma víbora africana !!!!! … que se dane o tártaro do gato … ele que se escove sozinho ….
Com o Tommy as coisas já não foram bem assim … para além de estragar coisas em casa, faz tropelias que nem vos passa pela cabeça e volta e meia apanha umas porradas e fica doente.
Há meses foram os olhos … uma esquisita membrana tapava-lhe os olhos e não o deixava ver … gotas e mais gotas … o que vale é que ele é um doente muito paciente, deixa fazer tudo o que é preciso para ficar melhor... a minha mulher andou zangada comigo dois dias porque sugeri: "olha, liga prá Saúde 24".
Há dias andava manco e tinha dores ... quase não se punha em pé …. Reumatismo disse eu acompanhando com um sorriso perante os olhares da minha família donde logo saíram faíscas mortais de recriminação … gaita !!! ... gostam mais do gato que de mim …
Tentei compor o ambiente com “bem… talvez tenha sido atropelado ou levasse uma porrada …” … já era tarde … o melhor que me descreveram foi “insensível  e desumano” ….

Voltando ao tema … este desgraçado faz de tudo para morrer e ainda não tive essa sorte.
Na Figueira da Foz, para onde o levámos de férias, tentou o suicídio atirando-se da varanda para a rua … para além do focinho “escalabardado” a única coisa que ganhou foi a amizade duns gatos vadios com quem conviveu durante dois dias em que não lhe pusemos a vista em cima.
Porque eu e minha esposa estávamos a trabalhar, os meus filhos acharam bem chamar os bombeiros ao avistá-lo em cima dum telhado com os seu novos amigos.
Coitado do bombeiro … põe escada, tira escada, … ao ritmo em que o Tommy mudava de telha e se afastava cada vez que o “soldado da paz” se aproximava … desistiram e foram embora, atitude sensata que aprovei quando mo contaram.
Convenceram-me depois do jantar que talvez se eu o chamasse ele reconhecesse a voz e …  bem, ainda hoje me arrependo porque concordei com esta ideia …
Eram cerca das 23:00 e eu no bairro a gritar “Tommy … Tommy” … qual Tommy qual carapuça !!! .. a única coisa que me era respondida foi-o pelas pessoas que assomavam às janelas e varandas e, os mais simpáticos, limitavam-se a uns “sccchiuuuuuuu … cala-te ó parvalhão” ….
Que vida a minha ….
Já ao final do dia seguinte, da varanda de casa, pensei tê-lo avistado em alegre convívio com a gataria vadia que ele já considerava da família … só que eram 3 siameses  e o raio destes gatos são todos iguais … tinha a certeza que um deles era o Tommy mas … chamei, chamei, …. Nada !!!
Disse a minha esposa o que se passava e logo ela, diligentemente, providenciou uma pequena lata com a ração preferida do raio do gato … “Tommy … Tommy … bicho… bicho … olha a papa … papa” … enquanto se aproximava do arraial de gatos.
Conseguiu aproximar-se o suficiente para o agarrar mas ele, assustado, arranhou-a e deu de frosques … eheheheheh …. Se calhar nem era ele … Momento que saboreei com particular agrado e que soube a pequena compensação pelo vexame da noite anterior … ainda hoje há vizinhos que quando passam por mim creio que dizem baixinho “Tommy … Tommy” … grhgrhgrhgrh …
Bem... em resumo … consegui agarrá-lo ao fim de várias horas de avanços e recuos e voltou ao seio familiar para felicidade da malta toda lá de casa ... eu incluído embora não o quisesse demonstrar abertamente.

Um outro episódio foi a “Subida ao Poste” … que paciência meu Deus !!!
Todas as noites, antes de nos deitarmos e se os gatos não estiverem por casa, ou a Lena ou os meus filhos vão ao jardim chamá-los.
Quase sempre aparecem pois estão habituados a dormir no aconchego do sofá, duma manta, dum tapete, … o pior é quando não dão sinal de vida !!!
Se eu não aparecer em casa á noite ninguém me procura …. Posso ter ficado com o carro avariado, posso ter sido acometido dum inesperado “chilique”, posso ter até caído ao rio … ninguém se importa … agora se falta um gato !!!! … alto aí … já não há sossego !!!!!
Foi o que aconteceu naquela escura e fria noite … o Tommy não aparecia mas ouvia-se miar ao longe.
Que diabo ... o bicho está preso nalgum lugar pensei eu. E dirigi-me ao sítio donde vinha o som que era ao pé dum enorme camião e esperava poder encontra-lo dentro da caixa de carga, sem poder sair … nada !!!!... não estava lá mas o seu miar mantinha-se e era já bem perto.
Espreitei para debaixo e para dentro do contentor do lixo, andei por dentro duns marmeleiros, agachei-me para uns buracos na valeta da estrada … não o via mas o seu miar de aflição mantinha-se bem presente … olhei para cima e estava bem lá no alto do poste dos telefones … “estúpido de gato, como foste aí parar?” …. “Miau … miau ... miau … “ respondia ele.



O Tommy em cima do poste


A minha esposa aflita dizia já que o gato iria ali morrer de frio naquela noite … “levo-lhe lá um cobertor” … uiiii… o que eu fui dizer  !!!!! … o meu sorriso só a fez “atirar-se a mim” e pior ficou quando lhe disse que “com uma calhoada certeira ele vai já descer” …. Aí estraguei tudo e o divórcio só não aconteceu porque a Loja do Cidadão já estava encerrada … !!!
Entretanto aparecem os meus filhos que ficaram em pânico (mais do que o gato) quando propus como solução cortar o poste com um moto-serra já depois de primeiro ter aventado a possibilidade de ir buscar uma espingarda e mandar um tiro para bem próximo do bicho, de forma a assusta-lo e fazê-lo atirar-se dali abaixo …
Toda a gente me ralhou e acabei por os convencer dizendo que tinha conhecimento de vários gatos que subiam e desciam a postes de telefones como quem bebia um copo de àgua e que, pela manhã, o gato já estaria à porta à espera do pequeno-almoço, blá blá blá … ufa !!! … eu mesmo não acreditei muito mas, de manhã, sempre poderia estudar uma melhor solução de o “deitar abaixo” quando eles estivessem para a escola …. Acabaram por aceitar que isso talvez fosse acontecer de verdade e reforcei a minha convicção quando antes de me deitar, passei pelo quarto de cada um deles para o afiançar.
De manhã, quando fui á porta para retirar o saco do pão, lá estava o Tommy com o seu “renhau” tão característico e a apressar-se a entrar para ir petiscar qualquer coisa.

Que mais irá acontecer a este gato? … e a mim que não tenho culpa nenhuma.

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