quinta-feira, 21 de março de 2013

VISITAR COIMBRA - O PANTEÃO NACIONAL

Pois bem ... mais uma visita cultural, ontem efectuada, desta vez ao Panteão Nacional que a maioria apenas conhece por Igreja de Santa Cruz.

É, desde 2003, Panteão Nacional por albergar os túmulos dos dois primeiros reis de Portugal, Afonso Henriques e seu filho Sancho I, e foi decretado que apenas o será para eles ... embora suas esposas estejam com eles sepultados, Mafalda de Sabóia e Dulce de Barcelona respectivamente... portan to, diferente do Panteão Nacional de Lisboa, na Igreja de Santa Engrácia, que continua "aberto" a novos ocupantes.



A entrada Manuelina da Igreja de Santa Cruz


A foto da praxe para comprovar aos mais desconfiados que, 
de facto, estive mesmo lá




O famoso Café de Santa Cruz, outrora o Mosteiro de São João das Donas, exclusivamente feminino, contíguo ao Mosteiro dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho (Igreja de Santa Cruz), este exclusivamente masculino.
Dizem alguns "historiadores" que a razão desta proximidade se devia à "troca de receitas de doces" ... eu prefiro acreditar que talvez porque os monges fossem mais instruídos pudessem colaborar na gestão do convento feminino ...




Parte do grupo que iria iniciar a visita


Vista da nave central da Igreja de Santa Cruz

Alguns autores apontam 1131 como data para a sua fundação embora outros defendam que, a sua construção demorou quase 100 anos até 1211, data em que foi sacralizada como templo cristão.
É provável que assim tivesse sido pois os reis, à época, orientavam os seus esforços para a expansão do território.
D. Afonso Henriques passou a maior parte da sua vida ali e talvez essa seja a razão mais forte que justifique a sua inusitada longevidade. Não há certezas do local do seu nascimento, Guimarães, Viseu ou mesmo Coimbra, mas o local do seu falecimento e vida é, sem dúvidas, Coimbra.
Viveu 75 anos e reinou durante 51 anos,!!!... notável para uma época em que a esperança média de vida se situava em pouco mais de 40 anos.

Existia no mesmo local uma pequena igreja, ocupada por um reduzido número de monges e conta uma lenda que D. Telo, o seu superior e mais tarde Arcebispo de Braga, montava um cavalo com uma albarda (sela) de corte e modelo pouco vistos. Tratava-se duma sela que ele tinha trazido de Montpellier, importante centro cultural da Europa à epoca. D. Afonso ter-lhe-à pedido a sela ao que D. Telo anuiu em troca da oferta de terrenos em volta da igreja que lhe permitissem construir uma obra maior e mais digna da ordem religiosa.

A ordem religiosa que se manteve no mosteiro, como já referi, era os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. Tratava-se duma ordem bastante culta, dedicada à cópia de documentos e leis e com forte influência na política de então.



A Dra Cristina Leal, do Dep. Cultura da Câmara de Coimbra, 
que nos guiou pela história do monumento



O monumento revela várias fases construtivas. Nesta foto é visível um arco "meia-cana", da construção medieval original e que subsistiu após a grande intervenção Manuelina começada em 1502




Embelezam as suas paredes vários painéis de azulejos do sec XVIII, oriundos duma escola de Lisboa de que não se tem a certeza de qual, e que foram adquiridos com o resultado de peditórios à população.


Abóbada Manuelina com os característicos medalhões e referências marítimas, cordas, conchas, esfera armilar





 Os painéis, na versão dos seus autores, contam uma história de conversão ao Cristianismo e estão carregados de simbolismo. A paixão, a redenção, a cura pela Fé,... são elementos bem presentes



A Pia Baptismal Manuelina. Trata-se duma obra lindíssima pelo trabalhado da "pedra-de-ançã"

A "Pedra-de-Ançã", tão presente no estilo Manuelino pela sua baixa resistência ao molde e ao talhe, de invulgar beleza branca calcária, acaba por se tornar um problema pela erosão a que está mais sujeita também. Tivemos oportunidade de observar algumas peças em que o desgaste provocado pelo ar relativamente húmido, fará com que, daqui a alguns anos, estejam destruídas ...


O órgão da Igreja, estilo Barroco, que ainda se encontra em condições de tocar o que, lamentavelmente, faz em muito poucas ocasiões.
Contemporâneo com o de Mafra, perde para este em tamanho e opulência.





O riquíssimo púlpito, obra do Mestre Nicolau de Chanterenne, mestre francês que desenvolveu grande parte da sua obra em Portugal. Algumas das mais importantes podem ver-se na Sé Velha também em Coimbra, no Mosteiro de Alcobaça, ... defendem alguns que foi ele a introduzir o Renascentismo em Portugal. Também da sua autoria são os túmulos dos reis aqui sepultados



Uma das capelas laterais, dedicada a Santo António, que aqui estudou e viveu, tendo nascido em Lisboa em 1195.
Fernando Martins de Bulhões (Santo António de Lisboa), Luis de Camões, D. Pedro Cristo, Carlos Seixas, ... são alguns dos mais proeminentes vultos, de diferentes épocas claro, que aqui viveram e estudaram.




Uma perspectiva da abóbada da nave central, de intervenção Manuelina. Ao cimo, vê-se parte do coro alto, infelizmente não visitável por estar a ser intervencionado. É possível ver-se o posto do "regente/maestro" e foi possível observar, do altar, que estão lá peças de talha dourada que aguçaram o apetite para uma próxima possível visita.




Uma foto do Santo Expedito ... pelo que pude ouvir da explicação, trata-se dum santo sem características de cura especiais, sendo antes um generalista, qual médico de clínica-geral ... é a este que me vou devotar tantos os problemas e chatices de vária ordem que me afligem ... quem sabe se o prof. Bambo e outros congéneres não são reminiscências deste santo?

Esta imagem ladeia um retábulo vazio mas que, em tempos, albergou uma Pietá. Essa imagem foi para restaurar para os especialistas do Museu Machado de Castro e por lá ficou ... resta o altar vazio da capela lateral.


Uma outra perspectiva do Coro Alto, estando em primeiro plano o púlpito de Nicolau de Chanterenne. O Coro Alto está por cima duma das 3 naves centrais da igreja: a que se vê na imagem, a central, mais alta e a do altar-mor onde se encontram os túmulos.




Ao lado esquerdo e antes da nave do altar-mor, encontram-se duas imagens em retábulos Manuelinos, da mesma escola de Chanterenne.


O túmulo de D. Sancho I, segundo Rei de Portugal e cognominado O Povoador, a quem se deve a estabilização das fronteiras do reino e que são praticamente as hoje existentes.


Mais uma prova da minha presença ...



Neste painel de azulejos, uma curiosa representação da recusa em entrar no Mosteiro a Santa Helena. Creio que s etrata de Santo Agostinho a apontar para a imagem da Virgem como que dizendo que apenas ela poderia entrar naquele templo masculino




O Túmulo de D. Afonso Henriques, maior e com mais cuidada decoração



O túmulo de Sancho I, quarto filho de Afonso Henriques. De seu nome Martinho por ter nascido no dia daquele santo, tornou-se rei pela morte de seu irmão aos 3 anos de idade. Este facto, levou à alteração onomástica para um nome mais de acordo com a tradição hispânica ficando, desde então, Sancho Afonso.

Após um acidente de seu pai, foi armado cavaleiro em 1170, aos 17 anos, e tornou-se o braço direito de seu pai militar e administrativamente. Considerado um rei muito esclarecido e informado, a ele se deve a conquista do território que hoje conhecemos.

Expulsou definitivamente os mouros numa batalha perto de Sevilha, junto ao Rio Guadalquivir e confirmou a paz com os reinos vizinhos de Leão, Aragão e Castela ao casar-se com D. Dulce Berenguer, irmã de Afonso II de Aragão.



Parte do grupo a ouvir as explicações da Dra Cristina Leal, excelente conhecedora de tudo o que se refere a este monumento com um dos túmulos em fundo.




Outra perspectiva do túmulo de Afonso Henriques



Parte superior do túmulo de Afonso Henriques, com simbologia vária e cada uma explicada pela guia


O altar-mor da Igreja de Santa Cruz. Pode estranhar-se o "vazio" do seu topo mas, como foi explicado, no lugar cimeiro deve encontar-se o Rei, o Soberano, o ser superior ... aos aolhos dos cristãos, este ser é Deus que está no sacrário, bem em baixo e aqui na foto mais iluminado ... logo, nada mais acima dele.

Em resumo: uma bela tarde passada em Coimbra, nesta visita de cerca de duas horas, em agradável companhia da simpática e competente guia bem como do restante grupo.
Fiquei muito contente por ver a baixa com muitos turistas ... pena o ar abandonado de algumas ruas e edifícios, com as lojas outrora fervilhando de actividade e, agora, fechadas.


Todas as fotos AQUI


2 comentários:

  1. Só alguns comentários:
    Os painéis de azulejos do lado esquerdo da nave narram o descoberta da verdadeira Cruz por Santa Helena; do lado direito, episódios da vida de Santo Agostinho.
    Quanto ao altar-mor, o "vazio" que chamou à atenção é, na realidade, o cimo do "trono" eucarístico. Durante exposições solenes do Santíssimo, seria colocado numa custódia no último degrau, estando todas as velas acesas. Noutros tempos, o quadro do retábulo taparia o trono. Se não estou em erro, esse quadro está encostado a uma parede na sacristia.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Meu caro Marco da Vinha:

      Muito obrigado pelo seu comentário e explicações.
      Bem haja.
      João Rui Pimentel

      Eliminar