Há dias, enquanto a impressora debitava umas folhas que o cliente tinha que assinar, e porque eram várias e iriam demorar, procurei “bavarder” com ele, como dizem os franceses, palavra para a qual não encontrei tradução que se adequasse.
Bavarder é como que estar a conversar sem propósito, sem intenção de chegar a qualquer conclusão, … talvez “conversa de chacha” seja o mais apropriado.
O cliente, de cerca de 70 anos e emigrante no Brasil há mais de 50, falava-me do Fernando Henrique Cardoso, do Lula, … e de como o preço que o minério de ferro tinha condicionado a evolução brasileira nestas duas distintas épocas, com evidentes vantagens para este último pois o preço passou de cerca de $20 para $140 com a China a comprar toda a produção.
Falou de Portugal e disse que estava triste … ouvia nas notícias que os nossos jovens licenciados iam para outros países trabalhar …
“Então como é? … enquanto dão despesa estão aqui e depois vão trabalhar para fora? … eles precisam se revoltar e falar pró governo que precisa criar condições pró país se alterar… falar com engenheiros, economistas, técnicos … que os políticos não têm sentido de estado … Cavaco me desiludiu, Sócrates, se não tivesse fugido para Paris, continuaria a endividar o país de forma totalmente irresponsável … não há estadistas em Portugal. Li no Brasil, um artigo dum economista americano que dizia que portugueses e gregos têm a maldição da preguiça e de serem governados por políticos cujo único objectivo é governarem-se a si mesmos …”
Consegui ver nos seus olhos que o que dizia era com genuína mágoa e também eu fiquei triste, sem argumentos para “nos” defender …
Um cidadão português, que vê o país à distância de milhares de kms mas que consegue fazer um exacto diagnóstico dele qual médico experimentado ao seu doente habitual.
E fiquei triste por pensar nos meus filhos … a mais velha com a cabeça a prémio todos os anos no sorteio das colocações dos prof’s, o do meio com a entrada na universidade, em curso por si escolhido e no qual depositamos fundadas esperanças de trabalho, a mais nova, ainda sem preocupações universitárias mas já com as que lhe permitam escolher o caminho certo da sua vida … raios partam isto !!!!
Bem me diziam que os filhos, em pequenos, dão apenas trabalho … depois dão preocupações.
Ainda tenho esperança, que a geração politica mais nova que tenha uma mentalidade diferente, da que não seja "lixar" o Zé povinho, mas as "estruturas internas" estão tão viciadas, com tanta gente "egoista", e com muitos interesses, que penso que nunca irá mudar!
ResponderEliminarAcredito que há pessoas honestas na politica, mas, uma pessoa sozinha não consegue lutar contra a estrutura que já está "montada" à anos!
Povo de conquistadores, agora somos o quê?
Espero que para os nossos filhos as coisas fiquem melhores!
Obg pelo seu comentário caro anónimo que subscrevo.
ResponderEliminarAcredito, no entanto, que as novas gerações consigam quebrar este "desencanto" que todos nós sentimos.
A nossa geração, que viveu o 25 de Abril e nele depositou tantas esperanças, passa por momentos de desilusão que, perigosamente, a fazem aproximar de extremismos e posições mais radicalizadas.
Eu próprio, que exuberantemente vibrei com o 25 de Abril, dou comigo a pensar que, afinal, estadistas e sentido de dever publico, só existiam antes dele.
A política, coisa nobre e de rara beleza, foi conspurcada pelos nossos péssimos exemplares de politicos que a infectaram de forma virulenta e bacteriana que, agora, só com potentes e radicais antibióticos, poderá ser salva.
Vamos ter esperança que os nossos filhos cresçam num Portugal melhor e, já agora, num mundo igualmente mais fraterno e justo.