sexta-feira, 24 de agosto de 2012

OS TRABALHOS vs PREOCUPAÇÕES



Há dias, enquanto a impressora debitava umas folhas que o cliente tinha que assinar, e porque eram várias e iriam demorar, procurei “bavarder” com ele, como dizem os franceses,  palavra para a qual não encontrei tradução que se adequasse.

Bavarder é como que estar a conversar sem propósito, sem intenção de chegar a qualquer conclusão, … talvez “conversa de chacha” seja o mais apropriado.
O cliente, de cerca de 70 anos e emigrante no Brasil há mais de 50, falava-me do Fernando Henrique Cardoso, do Lula, … e de como o preço que o minério de ferro tinha condicionado a evolução brasileira nestas duas distintas épocas, com evidentes vantagens para este último pois o preço passou de cerca de $20 para $140 com a China a comprar toda a produção.

Falou de Portugal e disse que estava triste … ouvia nas notícias que os nossos jovens licenciados iam para outros países trabalhar …
“Então como é? … enquanto dão despesa estão aqui e depois vão trabalhar para fora? … eles precisam se revoltar e falar pró governo que precisa criar condições pró país se alterar… falar com engenheiros, economistas, técnicos … que os políticos não têm sentido de estado … Cavaco me desiludiu, Sócrates, se não tivesse fugido para Paris, continuaria a endividar o país de forma totalmente irresponsável … não há estadistas em Portugal. Li no Brasil, um artigo dum economista americano que dizia que portugueses e gregos têm a maldição da preguiça e de serem governados por políticos cujo único objectivo é governarem-se a si mesmos …”

Consegui ver nos seus olhos que o que dizia era com genuína mágoa e também eu fiquei triste, sem argumentos para “nos” defender …

Um cidadão português, que vê o país à distância de milhares de kms mas que consegue fazer um exacto diagnóstico dele qual médico experimentado ao seu doente habitual.

E fiquei triste por pensar nos meus filhos … a mais velha com a cabeça a prémio todos os anos no sorteio das colocações dos prof’s, o do meio com a entrada na universidade, em curso por si escolhido e no qual depositamos fundadas esperanças de trabalho, a mais nova, ainda sem preocupações universitárias mas já com as que lhe permitam escolher o caminho certo da sua vida … raios partam isto !!!!

Bem me diziam que os filhos, em pequenos, dão apenas trabalho … depois dão preocupações.



2 comentários:

  1. Ainda tenho esperança, que a geração politica mais nova que tenha uma mentalidade diferente, da que não seja "lixar" o Zé povinho, mas as "estruturas internas" estão tão viciadas, com tanta gente "egoista", e com muitos interesses, que penso que nunca irá mudar!
    Acredito que há pessoas honestas na politica, mas, uma pessoa sozinha não consegue lutar contra a estrutura que já está "montada" à anos!
    Povo de conquistadores, agora somos o quê?
    Espero que para os nossos filhos as coisas fiquem melhores!

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  2. Obg pelo seu comentário caro anónimo que subscrevo.
    Acredito, no entanto, que as novas gerações consigam quebrar este "desencanto" que todos nós sentimos.
    A nossa geração, que viveu o 25 de Abril e nele depositou tantas esperanças, passa por momentos de desilusão que, perigosamente, a fazem aproximar de extremismos e posições mais radicalizadas.
    Eu próprio, que exuberantemente vibrei com o 25 de Abril, dou comigo a pensar que, afinal, estadistas e sentido de dever publico, só existiam antes dele.
    A política, coisa nobre e de rara beleza, foi conspurcada pelos nossos péssimos exemplares de politicos que a infectaram de forma virulenta e bacteriana que, agora, só com potentes e radicais antibióticos, poderá ser salva.
    Vamos ter esperança que os nossos filhos cresçam num Portugal melhor e, já agora, num mundo igualmente mais fraterno e justo.

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