Não eram ainda as 7:45 combinadas já eu estava à porta do Manuel Sineiro, meu amigo e vizinho a quem desafiei para ir a Vinhais.Estava a acabar de preparar a sua CBF600 ainda reluzente dos seus poucos quilómetros e, após os cumprimentos matinais, pusemo-nos a caminho em direcção às bombas da Adémia, ponto de encontro habitual quando viajamos para Norte.
Lá, encontraríamos “o” Silva, meu fiel companheiro de viagens e que tanta paciência tem demonstrado para me aturar quer a irreverência quer a pouca capacidade de manter planos previamente estabelecidos … é a tal coisa … combina-se ir por ali e tal mas … se encontramos uma placa que nos suscita a curiosidade, lá vamos nós …
O cafezinho, o abastecimento e eram já 8:20 quando retomámos a viagem em direcção a Penacova, pelo IP3, onde o Carlos Carvalho nos aguardava no “21”, conhecido snack-bar daquela via, nomeadamente pelas sandes de leitão sempre boas.
Pelo IP3 até á Raiva, pequena localidade e antigo porto fluvial do Mondego, que servia para as suas gentes levarem para a cidade os seus produtos, hoje mais conhecida pelos restaurantes de lampreia que, na época, estão sempre cheios com os apreciadores daquela … “coisa” …
Aí, tomámos o recente IC 6, que apesar de inacabado, permite fazer a viagem em bom ritmo quase até Tábua, onde se retoma a “antiga” N17, conhecida por Estrada da Beira e que foi, durante muitos anos, a principal via de ligação do centro a Espanha … só de pensar nisso faz confusão.
Bom, pela N17 rodeámos a Serra da Estrela pela sua encosta NO, passando ao lado de Seia, Gouveia, … e fizemos uma primeira paragem em Cortiçô da Serra com cerca de 120 kms percorridos.
O Silva, o Carvalho e eu mesmo a comer uma bucha em Cortiçô da Serra
A quadrilha que se formou para ir a Vinhais:
Carlos Carvalho, Manuel Sineiro, Silva e João Rui Pimentel
Uma sandes e um sumo, um café, desentorpecer as pernas e uma olhadela no mapa … a partir daqui entrou-se numa competição de mapas:
O meu mapa, de Portugal e Espanha, para além de já desactualizado, não é tão detalhado quanto o do Carvalho, que é apenas de Portugal e também mais recente. Quase sempre foi preciso consultar os dois para ver qual tinha razão … eheheh
Em Celorico acaba a N17 e começa a N102 e IP2. Fiquei surpreendido pela qualidade deste itinerário e até comentei com a rapaziada que cada vez mais gosto de não andar em AE’s. Não há mesmo necessidade pois as nossas “nacionais” são quase todas boas e mais bonitas.
Esperavam-nos mais cerca de 130 kms até Mirandela onde, confesso, “andei ás aranhas”. Sem querer acabei por entrar dentro da cidade que estava apinhada de gente … era sábado de manhã e havia feira e, pelo que me disseram depois, decorriam também as suas festas …
Lá conseguimos sair com a ajuda das informações que colhi junto dum taxista e seguimos para Vinhais, pela N103, com passagem ainda por Rebordelo, onde nos esperava o Henrique Castro, meu colega de profissão e “amigo das motas” como o são todos quando a minha mulher se quer referir a alguém do meio.
... “os teus amigos das motas” costuma ela dizer … eheheheheh
Uma das belas paisagens transmontanas que se podiam avistar da N103
Já tinha estado em Rebordelo por ocasião da ida a São Pedro Velho à Feira do Morango (lembram-se de ter feito uma crónica a dizer que os melhores morangos eram os de Trás-os-Montes ?) e pude cumprimentar o anfitrião da altura, que tão bem me recebeu na Estalagem.
Aqui em Rebordelo, já com o Henrique Castro que lá nos aguardava
Eram cerca de 12:00 e estava na altura certa de avançar para Vinhais onde iríamos almoçar na concentração.
Os 23 kms de Rebordelo a Vinhais foram feitos nas calmas e pela bonita N103 … bom piso, curvas porreiras e paisagens que mereceriam mais tempo de contemplação, pelo que chegámos a Vinhais cerca de meia hora depois e com 313 kms percorridos sempre com tempo óptimo para rodar, nem muito frio nem muito calor, as temperaturas rondaram os 15º da partida até os 25º da chegada.
O local da concentração era no Parque Verde e de Ofícios, um aprazível local que a Câmara Municipal disponibilizou, relvado, com WC´s, ao lado das piscinas municipais, … enfim, com todas as condições para uma realização como esta.
O parque
A entrada para o local da concentração
O Bruno, presidente dos Javalis, recebeu-nos com a hospitalidade e satisfação próprias dos transmontanos.
Eu, o Bruno, o Henrique, o Silva, o Carvalho meio escondido e o Manuel
nas primeiras provas da "lourinha"
E quem é que lá encontrei ?????
Esse mesmo, o Fernando Santos do Motoclube de Mangualde, com a simpática esposa e com o filho Alfredo que fazia anos mas não queria que se soubesse porque senão cantavam-lhe os parabéns blá blá blá e tal ...
Não nos conhecíamos pessoalmente e foi um enorme prazer conversar com ele ao almoço e com uns colegas que o acompanhavam ... como dizia o Jô Soares, "gente do alto minha gente".
Nas inscrições ... 20,00 por almoço, jantar, pequeno almo, brinde, t-shirt ... e os sorrisos das meninas .... espectaculo !!!!
Eu não vos disse que eram uns sorrisos bonitos ?
Acredito que os mais de 100 inscritos partilhem da minha opinião e reconheçam que foram dois óptimos dias de passeio e convívio.
Mais um aspecto do Parque Verde, onde estava instalada a tenda das bebidas
junto ao palco que nesta foto não se vê
O sempre disponível Bruno, presidente do Motoclube, levou-nos até à Hospedaria do Parque e que se trata dum antigo solar setecentista muitíssimo bem restaurado, na aldeia de Rio de Fornos e onde iríamos pernoitar.
A Hospedaria do Parque
O Bruno comigo quando nos foi mostrar a Hospedaria
O Henrique e o Manuel a preparar os sacos
O Bruno junto a um beliche onde dormimos
A cerca de 2 kms do centro da vila e já perto do Parque Biológico, tem 2 pisos e um sótão que são equipados com beliches, tipo camaratas militares, com lotação para cerca de 50 pessoas, e com todas as condições de conforto para quem apreciar o estilo.
De regresso à concentração, ao almoço fomos surpreendido com uma sardinhada “à maneira” na tenda que a organização ergueu no sitio mais elevado do parque verde.
A fila para o almoço
Aspecto do interior da tenda das refeições, tudo arranjadinho ...
Os cozinheiros/assadores
O Carvalho e o Manuel já de barriguinha cheia
O Tótó, dos Javalis, veio dar umas lérias connosco ... malta fixe
E de novo o Fernando Santos com a familia e colegas que, coincidentemente,
se encontraram ... isto há coisas !!!!
A dita sardinha, com febras e alheira ... querem mais?????
A sardinha era do melhor e o vinho tinto, “do lavrador”, não deixou os créditos da região defraudados e fez mesmo com que a relva circundante fosse, de repente, ocupada na horizontal por muitos dos participantes, cansados provavelmente da viagem…até eu “passei pelas brasas”.
Para ajudar á digestão nada como uma boa caminhada e decidimos ir ver o Parque Biológico de Vinhais.
O Carvalho ...
O Manuel ...
O Henrique ...
e o Silva ...
Trata-se dum parque situado a cerca de 3 kms da vila, em local de arvoredo bem denso e onde os animais, todos de raças autóctones, se encontram dentro de cercas onde o habitat é tanto quanto possível idêntico ao natural.
Os famosos 3 burros do parque Biológico de Vinhais .. eheheheh
As vacas de raça ... agora esqueci-me.. não apontei prontos !!!
De regresso ao Parque Verde e à concentração para mais umas cervejas … ooops, convívio com os amigos e verificámos tratar-se este 1º Encontro Motard uma verdadeira realização internacional
nas concentrações encontra-se malta com muita imaginação e criatividade ...
este companheiro fez um "cruise-control" à maneira !!!!
O estacionamento das motos dos participantes ...
… até umas simpáticas moçoilas brasileiras, que nos disseram residir e trabalhar em Macedo de Cavaleiros por ali se passeavam… realmente, as motos são um elemento congregador de gentes tão diversas…
Eu estava a ligar para casa a dizer que aquilo estava muito fraquinho ...
As "minina" ...
O Carvalho sempre preocupado com a segurança... hábitos profissionais
Pois bem, as moças eram bem simpáticas e, apesar da disputa da sua companhia ter sido a mais importante prova desportiva daquela tarde, bem mais interessante que a de jogos tradicionais que estava a decorrer promovida pela Câmara, não resistiram aos encantos do pessoal de Coimbra e não mais nos largaram … até aparecerem outros !!!!
Ao jantar foi servido um rancho que fez as delícias de toda a gente, Henrique Castro incluído, apesar de detestar … mas esta organização era, sem dúvidas, muito preocupada com o bem-estar de todos os inscritos … vejam lá que até havia um menu de dieta !!!! … e o Henrique, depois de ter comido um rancho que detestava, abancou na dieta que era uma febra com arroz … assim também eu me estou a quase a convencer a começar a dieta …
O pessoal a jantar ...
Ó pra elas ainda por aqui ...
Depois do jantar, a organização realizou um passeio pela vila com todos os participantes ... foi giro ver a curiosidade que a caravana despertava nos seus habitantes e a forma como aplaudiram e apreciaram ver o desfile ...
O desfile nocturno por Vinhais
A banda convidada já estava a aquecer as cordas e a bateria e o pessoal já se deslocava, ao sabor e por entre mais uns goles de cerveja, da tenda do jantar para a zona do palco onde também havia uma tenda-bar.
O momento da noite mais aguardado por todos menos para mim era, sem dúvida alguma, o show de strip …, eu fiquei descansadamente sentado na mesa onde já me encontrava há mais de 2 horas a beber mais um cerveja e a meditar, comigo mesmo, sobre os problemas do país, o buraco do ozono, do que pode acontecer se a inclinação do eixo da terra sofrer alguma alteração, … e outras merdas assim.
Atenção: conteúdo adulto e de 3ª idade ...
Só a penosa obrigação de levar ao conhecimento dos meus leitores tudo o que se passou na concentração é que fez com que me levantasse e, com elevado espírito de sacrifício e de missão, me dirigisse, em pequenos e vagarosos passos, para o palco onde actuava uma colega das que tínhamos conhecido durante a tarde e tão agradável convívio nos tinham proporcionado.
E eram já cerca de 2:00 quando resolvemos ir até à albergaria para descansar o cadáver. Fomos os primeiros a chegar e tomámos lugar nos beliches que tínhamos já escolhido.
Às escuras ainda conversámos sobre alguns assuntos da actualidade, de problemas sociais e económicos sobretudo e quando o Silva abordou o assunto “gajas”, logo todos desejaram boa noite e se viraram para adormecer em paz, deixando-o a falar sozinho.
Foi o primeiro a acordar e gentilmente deixou-nos dormir, tendo mesmo avisado a malta de Mogadouro, que chegou às 6 da madrugada e que ficavam também na mesma camarata que nós, que não fizessem barulho para não nos acordar … quero lá saber … para mim, depois de adormecer, até podiam levar para lá as motas e fazer piões no meio do quarto !!!!
Cerca das 8:45 deixámos o dormitório e seguimos para o centro da vila para o pequeno-almoço, no estabelecimento onde nos disseram que era por conta da organização … azar !!! … não tinham avisado a empregada e tivemos mesmo que pagar o consumo … tenho que combinar um destes dias voltar a Vinhais para ser ressarcido desta despesa extra … não perdoo !!!!
9:20 “toca a dar gás” para Bragança pois por sugestão do Carvalho, a viagem de regresso seria pela fronteira, Douro Internacional, … apesar de já conhecer é sempre um bom passeio e, se procurarmos bem, há sempre coisas novas para ver … e refiro-me apenas às paisagens, pois “monumentos” há por todo o lado, de todos os estilos e para todos os gostos.
Trás-os-Montes é lindo !!!!
Gimonde onde o Rio Frio se encontra com o Rio das Maçãs no Rio Sabor
Pela N218 passámos por Gimonde cerca das 10:30, onde o Manuel Sineiro quis mostrar-nos onde se come uma bela posta mirandesa … só que já me esqueci do nome do restaurante … mas se lá quiserem ir, há apenas dois restaurantes, têm 50% de hipóteses de acertar.
Logo a seguir a Gimonde, na pequena localidade de Milhão fomos a casa dum colega do Manuel, o Sr Celestino, ele e a esposa naturais de lá embora a trabalhar e viver em Coimbra há vários anos. Disse-nos que sempre que pode “vem à terra” e nas férias não dispensa uns dias por lá.
À boa maneira transmontana, levou-nos para a adega e logo ali e às 11:00, toca a cortar presunto e queijo, a descascar melão e a abrir frascos de doces “disto e daquilo” que a simpática esposa, a D. Beatriz, quis juntar ao já em cima da mesa… o Henrique, com o problema da dieta, só pôde comer 4 ou 5 fatias de pão com queijo e presunto… e 3 “penaltys” de branco !!!!... estava cheio de pena dele … tão cedo e …
O Sr. Celestino e o Manuel
nota: com pedido de desculpas pela qualidade das imagens mas a bateria da máquina fotográfica já tinha ido .. estas foram obtidas com telemóvel mixuruca ...
Após termos recusado 500 vezes os convites para almoçar, fizémo-nos de novo à estrada em direcção a Miranda do Douro. Acabei por decidir “passar por dentro” e ainda bem que o fiz pois o Silva disse desconhecer aquela cidade … por entre as suas ruas empedradas, com muitos turistas, demos uma volta completa e voltámos à N218 em direcção a Picote.
Uma curiosidade que, confesso, desconhecia ou, pelo menos, não me lembro de ter visto antes: as placas de sinalização estão em duas línguas, Português e Mirandês, o que achei delicioso.
Espectáculo espectáculo é o miradouro da Fraga do Puio sobre o Rio Douro … chega-se lá serpenteando pelas estreitas e bem tratadas ruas da aldeia e é um local deslumbrante.
Sem palavras .. liiindo ...
Alguém tinha que segurar a máquina...
mas tenho pena de não ter ficado nesta foto
Ah .. afinal sempre se arranjou !!!!
Umas impressionantes arribas sobre o Douro conferem um vista soberba e na qual é possível, com tempo, paciência e alguma sorte, avistar algumas aves de rapina como o abutre do Egipto, andorinhão real, águia de asa redonda, …
Almoço em Sendim deveriam ser cerca de 2 e qq coisa … o Carvalho é um habituée da concentração de Sendim (tal como meu outro amigo Rui Carvalho “Pai-de-Deus”) e desafiou-nos a ir comer uma posta mirandesa à Gabriela.
Nesta simpática vila estavam inúmeros jovens com aspecto hippie e alguém disse que deveria ter por lá ocorrido alguma rave-party …
Ao almoço, e depois de estarmos bem satisfeitos, permaneciam teimosamente na travessa ainda dois pedaços de posta mirandesa … fomos literalmente ameaçados por uma empregada a acabarmos com elas … “vamos lá … quero isso tudo comido”, disse ela com ar de mestre-escola e em tom de ameaça sem sequer nos olhar … não havia nada a fazer … tinha que ser e o que tem que ser tem muita força … fiz um último apelo à minha capacidade de mastigação e emborquei um pedaço, o Silva fez o mesmo e o Carvalho, “arrumou no armário” a maior parte sem dificuldade não sem antes pedirmos que a jarra do vinho fosse reabastecida.
Vimioso, Mogadouro, Freixo-de-Espada-à-Cinta, em direcção a Barca de Alva foi o caminho escolhido … a N221 proporciona curvas e contracurvas, ganchos e cotovelos, … que quando parámos num miradouro para “aliviar bexigas” o repuxo do orgânico liquido também vinha às curvas … fónix, tínhamos que estar a pelo menos 3 metros uns dos outros !!!!
Paisagens arrebatadoras com o Douro bem lá no vale, ladeado de socalcos de vinhas e amendoeiras, como é este o caso
À chegada a Barca de Alva 2 barcos de cruzeiro no Douro estavam a descarregar turistas que tomariam depois o lugar em autocarros … a chegada de 4 motos àquela confusão traz sempre um colorido e uma curiosidade que nos agradou e deixou “inchados” … só queria que vissem ... nós os quatro a parar as motos junto dum grupo de miúdas que nos observavam com imensa curiosidade e vontade de dar uma curva … só que quando tirámos os capacetes e apesar das barrigas o mais encolhidas possível, o que se ouviu foi um coro de “ora porra … “ … claro que isto nos deixou imensamente tristes e tivemos que ir emborcar uma Sagres 0,33 bem fresca de forma a repor os níveis de auto-estima nos limites mínimos de funcionamento.
Logo a seguir a Barca de Alva, na estrada para Figueira de Castelo Rodrigo, parámos no miradouro do Alto da Sapinha onde tivémos a felicidade de avistar um grupo de àguias que certamente andavam á caça para alimentar as crias nos seus ninhos nas elevadas escarpas ... fantástico e inesquecível.
e agora também a bateria do telemóvel se foi ....
E em direcção a Pinhel onde demos umas curvas até encontrar a N226 até Trancoso, depois até Celorico onde tomámos o IP 2 já referido no início desta crónica como sendo uma “auto estrada”espectacular.
Em Celorico, de novo na N17, tendo feito desde aqui e desta vez o percurso inverso do dia anterior, em direcção a Coimbra.
Paragem em Penacova para ajudar o Carvalho a desocupar o frigorifico pois disse que já há mais de um ano que não o descongela … e de novo na estrada para Coimbra onde o Silva ficaria, prosseguindo eu e o Manuel Sineiro até casa.
E assim, cerca das 21:00 e com 837 kms no pelo, chegámos bem, satisfeitos e mais ricos de amigos e de coisas que vimos e, essas, não há TROIKA que no-las tire.
Todas as fotos Aqui
Tudo muito bem descrito, acompahado de fotos e vídeo a condizer.
ResponderEliminarParabéns.
Quanto ao restante: VOLTEM SEMPRE. Vinhais espera-vos.
Obg meu caro anónimo.
ResponderEliminarSerá com imenso gosto que voltarei pois fui muitíssimo bem recebido por todos em Vinhais.
Toda a publicidade que possa fazer ao vosso encontro será apenas fazer justiça.
Abraço