segunda-feira, 9 de julho de 2012

FUI AO FUNDÃO AFIAR UMA NAVALHA

Queres ir ao Fundão comigo comprar uma navalha?
Disse-me o Rui "Pai-de-Deus" aqui há dias no Mototurismo do Centro entre duas cervejas ...
"Sim, quero, e quando?", respondi eu ...
"Olha, domingo dia 8 é capaz de ser bom dia" ...
"Combinado" ...

Conhecemo-nos há quase 40 anos e já fizémos milhares de kms juntos e, entre nós, as coisas combinam-se assim ... "meia-dúzia" de palavras, duas ou três frases ... e não é preciso mais.

Foi avisado do local e  hora de encontro o Rodrigues, colega do Rui que queria ir também para "afiar umas facas" e às 9:00 lá nos encontrámos nas bombas da Adémia ...


O Rui, o Rodrigues e eu mesmo ...

Em direcção ao IP 3 para seguirmos até São João de Areias onde decorria a concentração local para "apanharmos" o Vitor que também queria ir connosco.
O Vítor, já não o via desde a ultima vez que estivémos nos Pinguins ... também é dos "duros" ... tenda e fogueira, chouriço assado e café na fogueira ...


O "parque de campismo" no recreio da escola ...



A malta estava a preparar-se para o pequeno almoço ...



Nesta foto, o Vitor, eu, o Batalha, o Rodrigues e o Rui

E por lá encontrámos um velho amigo nosso, habituée das concentrações, o Batalha que, afinal, é quase nosso vizinho pois mora em Condeixa ...

A convite do Aníbal, outro dos nossos velhos conhecidos deste mundo das motos, fomos tomar um cafézinho à sede do Motoclube Diabos da Noite de S.João de Areias, na antiga escola primária ... de louvar a atitude da Câmara Municipal na cedência do espaço ao motoclube... sempre é melhor que ter o edifício fechado a degradar-se ...





O Aníbal connosco na sede do Motoclube Diabos da Noite


De lá prosseguimos viagem até Seia, em direcção ao museu do Pão, onde iríamos comprar o dito para o almoço. Tinha sido combinado um pic-nic no Covão D'Ametade ... cada um levava vinho (mas só do bom, condição de que todos os que connosco andam já sabem a mais importante de todas ...)


Este pessoal quer ficar sempre com alguém bem parecido nas fotos ...
A simpática funcionária da loja do Museu do pão, com o Vitor, o Rui e o Rodrigues ... alguém tinha que ser o sacrificado para segurar máquina... calha sempre ao mesmo ... @?&%-se


No Museu do pão não há apenas pão ... neste caso doces tradicionais da região

E começámos a subida para a serra ... virámos em direcção a Manteigas pela N232 e passámos pelo Vale do Rossim, onde temos ficado nas concentrações dos Eskimós ...



Ficámos muito agradados por ver que a sua barragem, quase vazia em Fevereiro e onde tínhamos andado a pé lá bem no fundo, estava agora composta com este lindíssimo lençol de àgua azul e que era aproveitado por alguns viajantes para um refrescante banho ... estavam cerca de 25º

No percurso para Manteigas, fizémos ainda duas paragens:


O Rodrigues a verificar a sua Africa Twin depois dela ter caído ...
Felizmente nada de estragos ....


Uma para uma ida a um miradouro donde ainda se avistava o lençol de àgua da barragem do Vale do Rossim e onde chegámos por um caminho entre giestas floridas de amarelo vivo e arbustros que se mostravam ao sol, bem robustecidos pelas chuvas de Abril.


O Rui e o Vitor na escalada para o improvisado miradouro ...


Já bem lá em cima ... e ao fundo a albufeira do Vale do Rossim


Depois de ter conseguido subir, também eu tive direito a uma foto


Opps... agarrem-me ...




Fomos acompanhados por um rebanho de ovelhas e cabras que, pachorrentamente por ali pastavam ao ritmo do tinir dos chocalhos, de quando em vez corrigido pelos assobios dos dois pastores que o guardavam.




O Vitor mostrou-nos uma fonte com uma cisterna para onde  a àgua corre e é utilizada para os animais beberem ... e também para por as grades de cerveja a refrescar.

A outra paragem num lindíssimo miradouro sobranceiro a Manteigas ...



dei comigo a pensar que, se não fosse "a malta das motas", o que conhecia da Serra da Estrela resumia-se a estradas principais e que toda a gente percorre ...



As motos tiveram que ficar onde foi possível ...



O Rui ainda escala bem ... isto de ser GNR e ter boa vida ... ehehehe



Já disse noutras ocasiões que esta t-shirt está levemente deformada no estômago ... assim até parece que tenho barriga ... !!!!


Manteigas ao fundo ... agora lembrei-me que isto até parece a Batalha Naval
.. Manteigas ao fundo ...ahahahhaa


O miradouro do Fragão do Corvo ... o Rodrigues, por causa das vertigens ...


Esta linda giesta bem colorida de amarelo e em contraste
com o verde da restante paisagem ...


E depois prosseguimos até Manteigas ... mas por uma estrada pouco usada .. muitas curva sem gancho  e eu sem a minha RT ... ai ai .... a LT é muito comprida ... curvas havia que a roda da frente já estava a rodar para a esquerda e a de trás ainda empurrava para a direita ...


Por S. Sebastião, paisagens e curvas deliciosas...
para quem tem "cabras do mato".... dassseeee


O Vitor na sua moto mesmo à chegada a Manteigas ...



Logo a seguir a Manteigas e depois dos viveiros das  trutas, há uma pequena estrada á esquerda com a  indicação POÇO DO INFERNO ...


era um dos locais que pretendíamos visitar e que, de nós, apenas o Vitor conhecia ... estes tipos com namoradas novas conhecem cada canto !!!!


Depois de vários kms a subir e em estrada com piso um bocado agressivo para a minha LT (teve uma vida pacata e sossegada antes de me conhecer e já me deve ter rogado pragas arrependida por ter mudado de dono ... aguente-se !!!) e onde os meus companheiros davam cartas (1 Varadero, 1 Africa Twin e uma Yamaha GTS 1000) chegámos ao POÇO DO INFERNO.


O Vitor junto ao Poço do Inferno à sua esquerda



Eu desci mesmo lá abaixo onde a cascata desaba ...


O Rui e o Vitor nas escadas ...


Um dos lagos da cascata ...


É uma cascata com cerca de 10 mts de altura por onde desaba a Ribeira de Leandres e cuja queda é amortecida por pequenos lagos em socalcos .. só visto pois nem eu sei muito bem onde fui buscar estas palavras para descrever o Poço do Inferno ... é muito giro "prontos".
O leito da ribeira é escavado num profundo e estreito vale, com imenso verde, e onde as encostas são autênticas paredes verticais, e onde dispuseram umas mesas de pic-nic ...


O desfiladeiro ...


Uma das mesas à disposição para pic-nic


Apesar de termos combinado que o almoço seria no Covão D'Ametade, eram cerca de 12:30 e a fome já apertava ... e antes que o vinho aquecesse ...






Almoçámos ali, tendo tido depois a companhia de dois casais que se divertiam a calcorrear a serra a pé ... há gente esquisita realmente !!!

E tivémos a companhia dum simpático residente na zona que se juntou a nós sem ser convidado ... como não  chateava, também não o mandámos embora e colocou-se em cima do blusão do Rodrigues a apanhar sol ...



Depois do almoço, descemos novamente até aos viveiros das trutas para o cafézinho ... hábito tão português e que proporciona sempre momentos de convívio e de conversas mesmo com quem se não conhece de lado nenhum ...



Barriguinha cheia e café tomado, toca de fazer o percurso junto ao vale glaciar do Zêzere, sempre bonito de percorrer  em qualquer época do ano.



O Vale Glaciar do Zêzere

De novo na EN 339 que cruza a Serra e virámos em direcção à Covilhã ... com passagem ao lado do antigo Sanatório das Penhas da Saúde  e que muitas coisas me trouxe à memória.

Foi construído por volta dos anos 30 do sec passado pela empresa dos Caminhos-de-Ferro e destinado à cura da tuberculose dos seus funcionários ... naquele tempo a tuberculose era comum e uma das maiores causas de morte em Portugal.

O bonito edificio, com fotos da época ...



se tivesse sido construido nos Alpes ou noutro qualquer, não teria chegado a este estado ...






Hoje está a ser reconstruído creio que para a ENATUR, a conhecida empresa das Pousadas de Portugal, agora do Grupo hoteleiro Pestana e, pelo que pude observar, a traça original está a ser reabilitada e mantida a sua beleza... ainda bem.

A Covilhã já lá ao longe ...

Uma pequena paragem na Covilhã para o Rodrigues comprar uns enchidos para comprovar lá em casa a sua viagem connosco ... (este pessoal novato não sabe que o Photoshop opera milagres e coloca-nos em sítios onde nunca estivémos e muito menos iremos ... mas se necessário prova que ... ai ai)

E daí até ao Fundão foi um saltinho ... nem tinha bem a noção de que da Covilhã ao Fundão são apenas cerca de 20 kms ... passei em frente do Hotel Alambique ("ai eu já fui tão feliz no Hotel Alambique ...") e atravessámos a cidade em hora de canícula ... estavam cerca de 30º, eram talvez 15:00 e as poucas pessoas que se viam estavam resguardadas em acolhedoras e refrescantes sombras ... não parámos pois o nosso destino era já bem perto e os pouco mais de 10 kms que nos levariam até ao Casal de Álvaro Pires foram feitos debaixo de sol intenso e boca seca ... os pic-nic's de presunto, chouriços, queijos e outras  m£rd@s calóricas são antagónicos à condução de motos ao sol ... pelo menos é o que deveria constar no livro a Arte de Bem Cavalgar todo o Assento ....

Foi com algum alívio que chegámos a casa do Sr. Augusto, conhecido cuteleiro em todo o país e principal motivo da viagem.

Umas goladas de àgua fresca para poder apreciar o "museu" de cutelaria que abaixo retrato nas fotos ... pese embora estas não tenham a fidelidade que a visita proporcionou.



O Sr. Augusto foi emigrante em França mais de 30 anos e trabalhava na arte da cutelaria, na zona de Clermont-Ferrand, também ela cidade ligada a esta actividade secular.
Os melhores aços para esta actividade têm aquela origem e os produtos que o Sr. Augusto Oliveira produz e comercializa vêm de lá.
Fiquei espantado com a quantidade e diversidade de facas, "faconas" e  faquinhas, cutelos, cutelinhos, fusis, espetos, ... eu sei lá mais o quê !!!!
Hastes de veado, crânios de bois, cabras, ovelhas, ... patas de javali e de corso, ... dentes de ... tudo o que se possa imaginar e que serve para fazer cabos para toda aquela tralha que acabei de enumerar ... algumas delas bem raras.
Uma navalha, de cabo de marfim, estava à venda por cerca de 500 "aéreos" ... e haviam verdadeiras obras de arte, artesanato puro.
No momento da nossa visita, dois cavalheiros, caçadores profissionais pela conversa (já se sabe o que é a conversa de pescadores, caçadores e outros mentirosos ...) escolhiam facas para esfolar javalis, "desmanchar" veados, ameaçar sogras, ...


Nas paredes encontravam-se vários exemplares de cutelaria


Uma colecção de navalhas idênticas às que íamos comprar


A indicação de que, aqui, havia chifres por todo o lado ...


Mais uma colecção de artigos ...


Alguém disse alguma coisa sobre se estou mais gordo?


Vários chifres e outros ossos para o fabrico de cabos
e se calhar sargentos ... não sei ...


O Sr. Augusto e Madame,  a afiar a minha navalha
de estimação e que me acompanha sempre na moto


Um interessante exemplar de espeto de churrasco com
o cabo em pata de javali
E o momento da compra da navalha chegou finalmente: o Rui tinha encomendado uma navalha igual à dele para um colega ... e estava encomendada porque o Sr. Augusto grava na dita o que se quiser... e ficou mais uma encomenda duma outra para mais um amigo ...

Bem ... confesso que vim de lá espantado e disse para mim mesmo que um dia até havia de levar lá a minha mulher  mas logo me arrependi .. com tantas armas mortais não fosse ela "começar com ideias ..."
Era já mais de 17:30 quando depois das facas afiadas, dos fusis e cutelos adquiridos e da compra da navalha ... afinal, o momento alto do dia e que tinha feito com que tivéssemos andado já mais de 200 kms até ali, ... nos despedimos com uma mini oferecida pelo simpático e prestável Sr. Augusto Oliveira e "pusémos pés ao caminho".
N238 impecavelmente asfaltada e larga, com pouquíssimo trânsito (curioso, creio que a maior parte das viaturas com quem me cruzei eram autocaravanas de matrícula estrangeira ...) até Oleiros, aí tomámos a N351 em direcção á Pampilhosa da Serra, tendo atravessado o bonito Rio Zêzere que se apresentava movimentado de pessoas, nas suas margens, procurando refrescar-se do intenso calor que ainda se fazia sentir.

Num miradouro donde se avistava o Zêzere


No cruzamento da 351 para a Barragem Santa Luzia



O Vitor estava a olhar o mapa para escolher o melhor caminho
para Tábua...  decidiu vir connosco até à N234 Lousã-Góis


Mais um aspecto da bonita paisagem com o Zêzere
mais uma vez a servir de personagem principal


outra ainda...

Passagem pela Pampilhosa da Serra em direcção à N342, estrada que liga Lousã a Góis, pela N112 que, em determinados trajectos se chama N2, tão badalada ultimamente nos "fóruns motociclísticos".

A N2 ...


Uma pequena paragem junto a uma fonte para "acabar com os restos" e mais uns "tintóis" ...
E acabou-se também a bateria da máquina... grhgrhgrh
E nesse cruzamento nos despedimos do Vitor que iria para Góis, Arganil, .. até Tábua onde reside e tem o seu negócio de queijos ... eu não dava para esse negócio, sempre apreciei um bom "queijo" e, não acumulava stocks ... eheheheheh.

O Rodrigues "abandonou-nos" em Miranda do Corvo, tomando a estrada para Penela e daí até Santiago da Guarda onde reside ... e eu segui com o Rui até Condeixa, onde nos separámos com a habitual buzinadela ...

E acabei por não comprar nenhuma navalha depois dos 353 kms de viagem ... mas a minha foi afiada e corta melhor que em nova.

Boas curvas...

Todas as fotos aqui do Picasa

O vídeo das fotos  também  Aqui   (já com a música alterada por causa dos direitos de autor ... estes tipos do Youtube ... grhgrhgrh ...)

Os vídeos do Youtube Aqui




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