E, tal como combinado, no sábado, dia 11 de Junho, encontrámo-nos nas Bombas da Galp da Adémia às 8:15 ... pontualidade irrepreensível ou não fosse o grupo liderado pelo Rui Carvalho (Pai-de-Deus para os amigos) e meu companheiro de viagem há 30 anos.
Nesta foto, eu próprio, O Zé Carvalho, O irmão Rui Carvalho e o Luis Valente
Para além de mim próprio e do já referido Rui, o grupo era constituido pelo José Carvalho (irmão do Rui) e pelo Luis Valente, companheiro que já não via há uns anos pelas circunstâncias da vida (profissional e pessoal) que nos separaram ....
Eu na minha BMW 1150 RT, o Rui na inseparável Honda XLV Varadero 1000, o Zé com a sua confortável Honda Deuville e o Luis na quase nova Yamaha Fazer 600 .... que nunca tinha feito uma viagem assim mais "larga" e pouco mais kms tinha feitos que a rodagem.
As nossas meninas
Cerca das 08:30 iniciámos a marcha com a coluna liderada pelo Rui (sempre o chefe-de-fila nos nossos passeios), logo seguido do irmão Zé, do Luis e de mim ... que habitualmente "fecho" o grupo.... hábitos ou manias como queiram....ehehheheh
Aproveito para dizer que o Rui é o habitual "chefe-de-fila" pois tem a melhor condução de todos nós... consegue manter uma velocidade estável, não se deixa "embriagar" pelas curvas ou rectas não "rodando o punho" em demasia ... quase sempre cumpre os limites de velocidade e restante sinalização ... coisa rara em "tipos doidos das motos"...
Teimosamente, continua a não fazer fé nas novas tecnologias e o seu "gps" é o mapa e uns apontamentos no saco de depósito .... o que tem resultado lindamente.
E pronto, aí fomos nós pelo IP 3 até Viseu, continuámos na A24 e fizémos a 1ª paragem na àrea de serviço de Vila Real após 207 kms ... uma sandocha, um café, duas lérias e ... toca a andar de novo.
2ª paragem já em Espanha, perto de Vérin, aos 276 kms, para abastecer com preços "à espanhola".... 1.335 o litro de gasosa ....
Continuámos para Norte e apanhámos a Ruta de las Rias Bajas em direcção a leste para tomarmos a Ruta de la Plata que sobe para Norte.
3ª paragem em Benavente aos 460 kms ( a espanhola, claro ....) numa estação de serviço onde nos instalámos numa esplanada para almoçar o que tínhamos combinado trazer de casa ... presunto, umas sandes, ovos, ... e duas garrafas de Pêra Doce que tinha acomodado na mala lateral da minha moto....
Aqui o pessoal a "dar ao bigode"
Eu e o Rui Carvalho depois da barriga atestada
Aqui uma foto obtida num dos bonitos miradouros que por aqueles montes abundam
Uns cavalos que calmamente pastavam junto à estrada ...
Perguntámos a uns "moteros" que estavam na estação de serviço onde era o parque de campismo mais próximo .... dirigimo-nos para lá mas felizmente estava fechado .... e digo felizmente pelas razões que mais adiante explicarei.
Cerca das 18:00 chegámos ao Camping Picos da Europa em Avin mesmo junto á estrada Cangas de Ónis - Cabralles após 735 kms de viagem desde Portugal.
O grupo na chegada ao Camping
Ficámos alojados num apartamento que era um imóvel bastante espaçoso e com capacidade para nove pessoas: no R/C havia a cozinha e sala de estar com 2 sofás e uma casa de banho: no 1º andar 2 quartos, 1 de casal sendo que no outro existiam 4 camas individuais e ainda ao cimo da escada mais uma cama individual ...,. excelente para estes quatro tipos que precisam sempre de muito espaço para arrumar calças, botas, blusões, luvas e outras "porcarias" que habitualmente levamos nas nossas viagens.
Após um retemperador duche fomos até ao restaurante bar do camping onde jantámos cerca das 22:00.
Excelente serviço, gente simpática e sempre disponível ... recomendo vivamente a quem quiser visitar os Picos da Europa e prefira ficar em camping.
No restaurante - bar do Camping
Ao ouvir sons de concertina, bombo e reco-reco ficámos a saber que no camping estava um grupo de caminheiros de Esposende ... cerca de 30 pessoas simpáticas e de várias idades que estavam sempre em festa.
Claro que me juntei a eles a tocar bombo e a entoar algumas quadras de improviso ... ehehhehe...que nem sempre rimavam é certo mas com o "barulho da música" ...Não se notou muito pois o concertinista só sabia três musicas também ... embora recorde o "Pinta o Bago" que era a mais repetida e reclamada pelos presentes pois dava para dançar o vira..... eheheh..uma paródia.... regressaram a Portugal no domingo com muita pena nossa.
Bem..com muita pena mais ou menos.. é que no domingo dia 12, acordaram toda a gente do camping às 06:30 ao toque do bombo.. raios os partam.... e fizeram uma arruada por toda a nossa secção do parque para terem a certeza que nos tinham acordado...
Amáveis como sempre partilharam o pequeno almoço connosco.Bem, e cerca das 10:00 depois de combinadas as coisas sobre o que se iria fazer nesse dia, fizémo-nos à estrada para Covadonga e os seus lagos na montanha, percurso de cerca de 35 kms.
Subimos a montanha por estradas lindíssimas e sinuosas, por entre espaços verdes que nunca mais acabavam .... e serpenteávamos por entre vacas, bezerros, etc que teimavam em nos aparecer no caminho nos lugares mais surpreendentes ...... e algumas eram de facto muito surdas pois nem com o buzinar se afastavam.
Ao longo da estrada há vários miradouros donde se avistam paisagens que merecem um pouco de repouso e contemplação .... as forças da natureza que em tempos impulsionaram o magma do centro da Terra e que moldaram aquilo que hoje conhecemos ... fantástico.
Chegados aos Lagos de Covadonga, há um pequeno parque de estacionamento e um restaurante onde as inumeras pessoas que lá acima vão podem descansar e dessedentar-se.
Um dos Lagos de Covadonga
Por estas montanhas cruzam-se inúmeras rotas pedestres que são igualmente percorridas por inumeros amantes desta forma de admirar a natureza. Foi frequente cruzarmo-nos com grupos, casais, pessoas solitárias,... que caminhavam por essas rotas de maior ou menor dificuldade e maior ou menor extensão.
Perto do estacionamento há um soberbo miradouro que permite observar toda a paisagem em redor.
Suscitou-nos a curiosidade um enorme "buraco" de algumas centenas de metros de diâmetro que se situava perto. Fomos ver e tratava-se duma antiga mina de manganésio e ferro que era utilizada desde 1850. Primeiro por espanhóis e mais tarde por uma companhia Inglesa.
Passou por várias fases, florescimento e decadência de acordo com as necessidades daqueles minérios na Europa tendo os seus melhores períodos sido coincidentes com as grandes guerras pela sua utilização no fabrico de explosivos, etc,
Mina a céu aberto ia sendo escavada e nos seus rebordos iam sendo abertas galerias que se estendiam quais braços saindo do seu centro. Ficou, portanto, com uma forma curiosa de "poço" com galerias ao redor e em vários níveis de altura.
Díficil de imaginar as dificuldades que aquelas pessoas tiveram em executar tais trabalhos e transportar o minério para sitios mais "civilizados" que pudessem depois proporcionar o seu transporte. este, desde a montanha até ao porto mais próximo era efectuado através de carros de bois, burros e mulas.
Depois da visita aos lagos, voltámos a descer pela mesma estrada para visitar o Mosteiro de Covadonga, também conhecido por Basilica de Santa Mariã de la Real de Covadonga. Interessante construção dos anos de 1700 em plena serra e que, pelas inscrições lá presentes, era um local muito frequentado pela familia real espanhola que tinha especial devoção à sua santa.
Recomendo a sua visita pois é uma construção bonita e encravada num frondoso vale de verde exuberante.E toca a descer para Cangas de Ónis para almoçar .... terra em festa que tem como padroeiro o Santo António ... só não vi lá assadores e sardinhas .... com muita pena minha.
Mas nem por isso deixámos de almoçar e atrevemo-nos a mandar vir a famosa "fabada asturiana" que foi precedida dumas "copas" de cidra, bebida típica das Asturias, feita à base de fermentação de maçã e que ´servida de modo curioso: o empregado coloca o copo bem abaixo da linha de cintura e a garrafa acima da cabeça, deixando correr o liquido até ao copo .. claro que nem sempre todo vai lá para dentro mas que é curioso é... ehehhehe
Eu e o Luis Valente "de volta" duma "fabada asturiana"~
Gostámos de Cangas ... pequena vila cheia de vida, ruas cheias de gente e que nos suscitaram comentários em que nos lamentámos por saber que, àquela hora, nas vilas e cidades do nosso país, as ruas não eram tão frequentadas ... vá lá saber-se porquê....
Bem, e como era preciso fazer a digestão do demorado almoço, decidimos viajar até Ribadesella, localidade junto ao mar e na foz do rio Sella, a cerca de 25 kms.
Fazia lembrar S. Martinho do Porto pois tem uma baía parecida: dois montes a guardarem a entrada do mar na enseada/foz, povoada por barcos de pesca de recreio e bonitos iates.Depois de deixar as motos estacionadas uma vez que apenas se podia circular a pé junto ao estuário, fomos até à entrada da barra, subindo depois a um dos montes que a ladeiam e aí apreciar mais uma vez toda a paisagem... não só o verde que que estava nas montanhas por detrás de nós mas também o azul claro e lindissimo dum mar que apenas dava sinais de vida por pequenas ondas que embatiam nas rochas bem lá em baixo de nós.
A parte mais dificil desta visita a Ribadesella, foi ficar a "aboborar" numa das muitas esplanadas que compõem o passeio marítimo ... apesar dos lamentos que as cervejas disponíveis (Mahou e Estrella Galicia) não prestavam para nada face às indiscutíveis qualidades das nossas Sagres e Superbock, foi com grande sacrifício que começámos a beber as Mahou's e as Estrella Gallicia's ..... a partir da 3ª já apreciávamos a sua qualidade e lá para a 5ª começávamos a duvidar mesmo das diferenças que pudessem existir entre as "nossas" e as dos "espanholes" ....
Eu junto ao estuário do Rio Sella em Ribadesella
Chegámos ao camping cerca das 20:00 ... tomar um duche e ir jantar uma vez mais para o simpático restaurante do mesmo.Começou entretanto a chover, o que estava a ameaçar desde que chegámos. Todo aquele verde da paisagem não é à toa e, por isso, o clima é muito humido, estando muitas vezes a choviscar, aquela chuva miudinha e chata ... tínhamos tido sorte até aí pois não tinha chovido ainda.
O pessoal do MTC-Mototurismo do Centro fez uma viagem no ano passado de 4 dias em que choveu incessantemente .... não souberam preparar as coisas como nós !!!!
Jantámos e ficámos mais uma vez no bar do restaurante à conversa e a combinar as coisas para o dia seguinte: Fonte Dé foi a escolhida.
Nessa noite encontrámos dois motard portugueses, o José Filipe e o Antero Ramos, que partiram de Lisboa em viagem para a Aústria. É sempre agradável encontrar compatriotas nossos no estrangeiro embora a distância, neste caso, não fosse assim tão grande. Partilhámos experiências, discutimos motos, motores, pneus, carenagens, estradas, viagens, .... não, não me lembro de termos falado de "gajas" ..... devia ser do entusiasmo que o dia seguinte nos estava a proporcionar.Dia 13 de Junho, segunda feira, depois do pequeno almoço tomado saímos cerca das 9:30 para Fonte Dé.
Mais uma estrada lindissima serpenteando por entre montes, em desfiladeiros cuja grandeza nos fazia abrandar a marcha para admirarmos toda aquela natureza que nos fazia "pequeninos".
Um momento de paragem no desfiladeiro de Hermida
Passámos por Arenas de Cabralles localidade conhecida pelo seu queijo ... de cheiro intenso mas sabor muito agradável (suspeita esta opinião pois eu de queijo, até do de batata...), Panes, desfiladeiro de Hermida .... este um lugar que não me importava de fazer todos os dias mesmo que para o trabalho...ehehehhehe.São cerca de 20 kms de desfiladeiro com estrada paralela a um pequeno rio e parece o Grande Canyon americano... só que este é verde, o outro não ...
Uma foto que tirei com a simpática funcionária do posto de combustíveis, depois de muita insistência dela ao teimar em ficar com uma recordação minha
Duas perspectivas do desfiladeiro de Hermida
Depois deste desfiladeiro chegámos a Potes onde parámos apenas para desentorpecer as pernas durante uns breves minutos e prosseguimos viagem até Fonte Dé.
Fonte Dé não é mais que um pequeno conjunto de edificios bem lá em cima e que se destinam a complementar o teleférico lá existente: restaurantes, hotel, etc....
A entrada para o teleférico em Fonte Dé
Como não poderia deixar de ser, subimos no teleférico até ao cimo do monte que não era visivel cá de baixo pelo intenso nevoeiro que existia a partir dos 500 mts do local onde nos encontrávamos.
Na cabine do teleférico
O teleférico leva-nos até cerca de 800 mts mais acima e quase a pique ... é uma viagem de alguns minutos apenas mas em que a respiração é mais ou menos descontrolada pela sensação de perigo pois a cabine sobe ao mesmo tempo que se aproxima da enorme muralha para onde se dirige.. e parece mesmo que lhe vai bater ... ufa !!! .. só de contar arrepia ... ehehehhe
Lá em cima, ainda fizémos umas fotos apenas para brincadeira pois o nevoeiro era muito intenso e não dava para ver a paisagem em baixo.
O Luis, o Rui e eu próprio no suposto miradouro...em dias de sol
O aspecto lá em cima era quase lunar .... muito inóspito e quase sem nemhuma vegetação. A única que existia era bem rasteira e limitava-se a pouco mais que uns musgos. Cruzámo-nos com algumas pessoas numa rota pedestre que a percorriam vindos sabe-se lá de onde .. este pessoal que anda a pé são uns "ganda malucos" .....
Altos picos brancos, onde ainda se avistavam uns últimos resquícios de neve, pedras grandes, pedras pequenas, pedregulhos assim-assim,.... não gostei muito, sinceramente....
Apenas uns corvos que se habituaram à presença humana por ali andavam à cata dumas migalhas de comida...ah, e os nossos amigos motard de Lisboa que seguiram o nosso conselho e foram também até Fonte Dé.
Descemos e tomámos o caminho de regresso até Potes, onde almoçámos ... tínhamos feito hoje cerca de 80 kms num total de cerca de 950 desde o inicio da viagem.
O almoço em Potes
Ainda em Potes com o Zé Carvalho, na parte velha da localidade ... lindo o centro histórico
Fizémos exactamente o mesmo caminho de regresso .... nessa tarde com algum calor que nos fez parar em Panes ... pitoresca vila com um rio onde a prática da pesca do salmão é usual. No bar onde parámos para nos refrescar com umas "bejecas" (sim, das intragáveis Mahou e Estrella Galicia...) estava uma réplica em cerâmica dum salmão capturado com cerca de 12 kgs ... é obra !!!
Foto obtida numa de várias pequenas pontes que atravessam o rio no desfiladeira de Hermida
De novo no Camping e após o habitual duche, lá fomos até ao restaurante para o ultimo jantar em Espanha nesta viagem às Astúrias.Mais copo menos copo recolhemos aos aposentos para descansar.
Á chegada ao camping de mais um dia de viagem pelos Picos
Dia 14, 3ª feira, dia de regresso.
O habitual nestas coisas ... preparar a carga de forma a que fique devidamente acondicionada, verificar níveis de óleo e pressões de ar, "spryar" correntes para quem precisa, pequeno almoço tomado e lá viémos nós de regresso...Praticamente o mesmo percurso da viagem em sentido contrário embora com mais transito, (recordo que a viagem para lá foi feita num sábado).
Paragens para abastecer, almoço em Caves já um pouco tarde e cá estamos em casa novamente .... preparados para outra.
Ficou a vontade de repetir pois o grupo era "porreiro pá".
Apesar de viajar com o Rui há já cerca de 30 anos, com o irmão e o Luis não o tinha feito ainda em viagens mais ou menos longas e, quer se queira quer não, quando 4 pessoas têm que passar 4 dias juntos, têm que ter entre si uma capacidade de tolerância e de adaptação que nem para todos é fácil .. neste caso, foi facílimo.
Abraços
João Rui Pimentel
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